Operação de resgate em Brumadinho continua neste domingo (27)

Até a noite de sábado (26), o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais havia confirmado 34 mortes. O presidente Jair Bolsonaro esteve na região, e prometeu punição aos culpados

Escrito por Redação ,

"Primeiro, levantou um poeirão. Depois foi quebrando tudo, fazendo um barulho que entrava pelo ouvido, pelo peito e pela barriga. Fazia tremer tudo, o chão, o capim e a gente", lembrou Cássia Oliveira Silva, moradora da região de Brumadinho (MG). Ela residia em um sítio e a onda de lama passou a poucos passos da sua casa. Os fundos de seu terreno terminam no Córrego do Feijão, no vale por onde a lama desceu, levando consigo a horta e um pequeno pasto onde estavam um cavalo e uma vaca. A casa ficou de pé, mas tudo em volta agora é barro. Cássia sobreviveu.

Um dia após a ruptura de uma barragem da Vale em Brumadinho (MG), o prognóstico que havia sido traçado por autoridades na sexta-feira (25) - sobre a tragédia humana ser superior a de Mariana, há três anos - se concretizou com a dor da confirmação de mais mortes. De acordo com o Corpo de Bombeiros, até por volta das 17h45 deste sábado (26), o número de mortes chegou a 34.

O desastre de Brumadinho supera em número de mortes a tragédia ocorrida em 2015 na cidade de Mariana (MG). Na época, a enxurrada de lama decorrente da ruptura da Barragem do Fundão resultou na morte de 19 pessoas.

De acordo com o mais atualizado balanço divulgado até o fechamento desta edição, já foram identificados 81 desabrigados. Há, ainda, 299 desaparecidos.

Resgates

No início da noite, por conta da chuva, os Bombeiros suspenderam a operação de resgate e devem retomar às 5h deste domingo (27). Chegaram reforços dos bombeiros e da Defesa Civil do Rio de Janeiro. O primeiro e único corpo identificado até então é de Marcelle Porto Cangussu, 35 anos, que era médica da Vale.

Do total de 345 pessoas que estavam desaparecidas, 46 foram resgatadas e encaminhadas para unidades de saúde e outras 299 ainda não foram localizadas. Na manhã de sábado, a Vale divulgou uma lista com os nomes de mais de 400 funcionários com quem não teve contato.

A AGU anunciou que ajuizaria medida cautelar de urgência para que as empresas de telefonia forneçam a relação de assinantes dos celulares que estavam conectados às Estações de Radiobase (ERBs) que atendem às imediações da Mina de Córrego de Feijão, para obter nomes de pessoas que estavam na área do desastre.

Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a região do desastre, mas não falou à imprensa. No Twitter, escreveu: "Difícil ficar diante de todo esse cenário e não se emocionar". Mais tarde, em nota, informou que disponibilizou recursos humanos, financeiros e tecnológicos para ajudar o governo mineiro na operação em Brumadinho.

O comunicado não especifica valores nem detalha ações ou cronograma de repasse dinheiro. O presidente afirma, contudo, que tomará todas as "medidas necessárias" para que tragédias como a de Brumadinho não se "repitam" ou fiquem "impunes". Ele se reuniu com o governador de Minas, Romeu Zema, que decretou calamidade pública e luto oficial no Estado.

"Determinei que o Governo Federal proporcione total suporte à população vitimada por esse desastre", ressaltou o presidente. Ele ainda confirmou que recebeu apoio do primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que anunciou ontem o envio de uma missão israelense para o Brasil em 24 horas. "Foi oferecido e aceitamos, por parte do 1º Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ajuda na busca de desaparecidos", disse.

Responsabilização

Romeu Zema, por sua vez, frisou que os envolvidos na tragédia serão punidos "exemplarmente". "Todas as medidas judiciais já foram tomadas e recursos na casa dos bilhões bloqueados, de forma que a punição seja a mais rigorosa possível", destacou. "Aquilo que a lei prevê, será feito", acrescentou. Ele defendeu a revisão da legislação para que sejam evitadas tragédias.

Após bloquear R$ 1 bilhão da Vale em uma liminar atendendo a um pedido da Advocacia-Geral de Minas, a Justiça de Minas Gerais bloqueou, no sábado, mais R$ 5 bilhões da empresa para despesas ambientais, após uma ação cautelar protocolada pelo Ministério Público Estadual. O Ibama também confirmou multa de R$ 250 milhões à Vale.

Força-tarefa

"Independentemente deste trabalho que agora é coercitivo, nós vamos buscar a responsabilização integral e vamos cobrar da empresa, não só em juízo, mas vamos tentar buscar administrativamente", frisou o procurador-geral do MP-MG, Antônio Sérgio Tonet. A Vale apresentou ao fim de novembro de 2018 uma petição atestando a segurança da barragem, com laudos e uma perícia de empresa externa. Para Tonet, isso merece mais investigação, já que a estrutura cedeu.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, também esteve em Brumadinho, e determinou a criação de uma força-tarefa para apurar as responsabilidades da tragédia. Segundo ela, "as informações são prematuras para identificar quem são os responsáveis".