Rodízio estimula o uso de carros em SP, diz especialista

Escrito por Agência Estado ,

O rodízio de veículos na capital de São Paulo mais atrapalha a cidade do que ajuda, porque coloca o carro no foco das políticas para o transporte, aumenta a poluição e altera o ritmo de vida dos cidadãos. A opinião é do coordenador do Programa Nacional de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais - órgão do Ministério das Cidades -, Renato Balbim. O rodízio foi criado em 1997 para melhorar a qualidade do ar e, segundo ele, funcionou como uma medida emergencial para o trânsito da cidade. No entanto, a principal conseqüência foi o estímulo ao aumento da frota de veículos e à circulação de carros, diz o especialista.

De acordo com Balbim, o rodízio tirou de uma hora para outra 20% da frota de veículos das ruas. Com o tempo, o efeito passou a ser o contrário do que se esperava. "Num passe de mágica, criou-se em São Paulo 20% mais de espaço. Com mais espaço e fluidez do trânsito, o paulistano pensou: 'Ótimo, andar de carro agora ficou uma maravilha'", diz.

Além disso, muitas famílias compraram um outro veículo para fugir das restrições do rodízio municipal. Esse fato, afirma Balbim, foi ajudado ainda pelas melhores condições econômicas do País nos últimos anos, especialmente em razão da facilidade para crédito na compra do automóvel. "O rodízio foi criado após o Plano Real, em um momento de estabilidade, de aumento das vendas de carro popular. Agora é o crédito, numa época de grande estímulo econômico, que aumentou a procura por veículos", afirma.

O especialista explica ainda que o rodízio distribuiu os três picos tradicionais no trânsito - o começo da manhã, a hora do almoço e, principalmente, o fim da tarde - ao longo do dia. Como o rodízio proíbe a circulação de automóveis nos horários de maior movimento, das 7 horas às 10 horas e das 17h às 20 horas, as pessoas adotaram uma simples estratégia para fugir da restrição: "Elas mudaram seus horários", diz.

Segundo ele, o movimento intenso de veículos durante todo o dia altera o que ele chama de "ritmo da cidade". "Todo mundo tem um ritmo. Eu tenho um ritmo de vida. Quando a cidade distribui esse ritmo frenético durante o dia todo, as pessoas têm a sensação de caos constante, com muito barulho, movimento, e não consegue relaxar, sair para caminhar pela cidade.

Poluição

Outro problema é a poluição. De acordo com ele, o rodízio concentrou mais carros em circulação no horário entre 10 e 16 horas, faixa de maior incidência de luz solar. "Quanto mais carros nas ruas, maior emissão de gás carbônico. E a luz solar sobre essa poluição produz mais ozônio." O elemento químico, segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), da Secretaria do Estado do Meio Ambiente, tem "conseqüências dramáticas sobre a saúde da população, especialmente as crianças, idosos e portadores de doenças do trato respiratório".