Rede Globo reage a Bolsonaro e diz que é 'independente para informar'

No Jornal Nacional desta terça, a emissora exibiu reportagem revelando que o nome do presidente foi mencionado nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2018, no Rio

Escrito por Estadão Conteúdo ,
Legenda: A menção pode levar a investigação para o Supremo Tribunal Federal (STF) porque o presidente tem foro privilegiado
Foto: Agência Brasil

A Rede Globo divulgou na manhã desta quarta-feira, 30, uma nova nota defendendo o trabalho de sua equipe de jornalismo, depois de ser novamente criticada pelo presidente Jair Bolsonaro, em viagem no exterior. No texto, a empresa afirmou ter independência para informar fatos, "mesmo aqueles que possam irritar as autoridades". Foi a segunda manifestação da empresa desde a noite desta terça-feira, dia 29.

No Jornal Nacional desta terça, a emissora exibiu reportagem revelando que o nome do presidente foi mencionado nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2018, no Rio. A menção pode levar a investigação para o Supremo Tribunal Federal (STF) porque o presidente tem foro privilegiado.

"A Globo reitera que teve acesso ao livro da portaria e, como deixa claro a reportagem, informou-se com múltiplas fontes sobre o conteúdo do depoimento do porteiro. Não mentiu. Dada a relevância dos fatos, a Globo cumpriu a sua obrigação de informar o público, revelando o que disse o porteiro e todas as suas contradições, que ela própria apurou. A Globo não tem nenhum objetivo de destruir quem quer que seja, mas é independente para informar com serenidade todos os fatos, mesmo aqueles que possam irritar as autoridades. E assim pode agir, justamente porque não depende nem nunca dependeu de verbas de governos, embora a propaganda oficial seja legítima e legal", afirmou a TV Globo, em nota à imprensa.

A reportagem que irritou Bolsonaro revelou que um porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, onde Bolsonaro tem casa, contou em depoimento que, horas antes do crime, um dos acusados de participar da ação, o ex-policial Elcio de Queiroz, chegou de carro. O suspeito afirmou que iria à casa 58, de Bolsonaro, na época deputado federal. Segundo o empregado, ao interfonar para a residência, recebeu de "seu Jair" autorização para que o visitante entrasse.

Elcio, porém, se dirigiu à casa de outro morador (e também suspeito do assassinato de Marielle), Ronnie Lessa. O porteiro, que acompanhou, por câmeras de segurança, o deslocamento do veículo do visitante, teria interfonado de novo para a casa 58. Lá, o homem que se identificou como Bolsonaro teria dito que sabia para aonde Elcio ia. Há registro no livro da portaria do condomínio, ao qual a emissora diz ter tido acesso. Depois, Elcio saiu com Ronnie Lessa e, mais adiante, trocaram de carro. Nesse segundo veículo, teriam cometido o duplo assassinato.

No mesmo dia e horário, contudo, Bolsonaro, que era deputado federal, estava em Brasília. Tinha registrado presença e participado de votação na Câmara dos Deputados.

Após a revelação da menção a seu nome nas investigações do caso Marielle, Bolsonaro alegou que a Globo quer trazer ao Brasil a crise que afeta países vizinhos e reiterou que na renovação da concessão da emissora, que ocorre em 2022, "o rigor da lei" será utilizado, entre outras acusações.

"Eu trabalho 24 horas por dia para ajudar o Brasil e a Globo trabalha com fake news", disse o presidente em entrevista a televisões, em visita à Arábia Saudita.