Invisibilizadas na disputa, candidatas são divulgadas em plataforma

Além das informações individuais sobre as candidaturas, também são apresentados os percentuais de investimento declarados por cada sigla em candidatas mulheres

Escrito por Folhapress ,

Um mutirão de mulheres se mobilizou para desenvolver uma plataforma para divulgar as cerca de 8 mil candidaturas femininas que disputam uma vaga nas eleições deste ano, tanto para o legislativo quanto para o executivo. 

Cerca de 700 voluntárias, de donas de casa a professoras universitárias, foram envolvidas direta ou indiretamente na criação do site Appartidárias 2.0 , iniciativa do Grupo Mulheres do Brasil e Luiza Labs, em parceria com a faculdade de direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, que reúne informações sobre as candidatas.

A primeira iniciativa para o desenvolvimento do projeto foi feita durante as eleições de 2016, com uma plataforma que monitorou candidatas à Câmara de São Paulo. Para este ano, o intuito foi criar uma ferramenta que ajudasse a dar visibilidade às candidaturas. 

No primeiro semestre, uma maratona hacker resultou na criação de quatro protótipos para a plataforma, que entrou no ar neste mês. No site o eleitor pode fazer a busca por candidatas por meio de filtros para o cargo em disputa, estado e partido. Em cada página, é apresentada a candidata, seu número de urna, informações pessoais e sobre o financiamento da campanha, informações extraídas do banco de dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). 

Além das informações individuais sobre as candidaturas, também são apresentados os percentuais de investimento declarados por cada sigla em candidatas mulheres.

O monitoramento fica por conta de um grupo de 200 programadoras voluntárias, que entra em contato com as candidatas por meio de emails e redes sociais para verificar se não se tratam de registros fictícios, quais pautas defendem e se de fato estão recebendo os recursos informados.

A líder do Comitê de Políticas Públicas do Grupo Mulheres do Brasil e responsável pelo projeto, Ligia Pinto, relata que esse contato se revelou uma tarefa "hercúlea"

"O boicote dos partidos às candidatas mulheres é visto o tempo inteiro. Estão criando instrumentos para maquiar melhor as candidaturas fictícias: põem o email deles, criam uma página no Facebook e colocam uma foto ali, mas não há movimento", diz.

Ligia conta ainda terem recebido depoimentos que colocam em xeque as informações repassadas pelas siglas sobre o financiamento das candidaturas.

"No Rio de Janeiro ouvimos uma candidata falar 'aqui está dizendo que ganhei R$ 1,6 mil reais, mas essa é uma presunção do partido de que conseguiria esse dinheiro. Eles me deram meia dúzia de santinhos e nem isso recebi'. Pode ser que haja algum tipo de má informação prestada pelo partido", afirma.

Segundo ela, a mudança no sistema de financiamento de campanhas, excluindo empresas como doadores, ampliou a desigualdade na distribuição de recursos, que agora são ainda mais escassos e por isso direcionados aos candidatos com chances reais na disputa, a maioria homens. Com 53 deputadas federais e 13 senadoras, o Brasil ocupa atualmente a 152ª posição no ranking mundial de igualdade no Parlamento.

Essas denúncias serão enviadas por meio de alertas aos partidos por meio de um chatbot no Twitter. A Procuradoria Eleitoral também deve ser acionada. 

Passada a eleição, o intuito do grupo é acompanhar os projetos das candidatas eleitas e analisar a vinculação entre o financiamento recebido e o resultado nas urnas. Nas próximas eleições, a meta será investir na formação das candidatas, ajudando a formular propostas e fazer a própria comunicação, por meio das redes sociais.