Navio grego derramou óleo no litoral brasileiro, aponta investigação

Depois de dois meses, autoridades brasileiras conseguem identificar o navio-tanque Bouboulina como principal suspeito da pior tragédia ambiental do País

Escrito por Redação ,
Legenda: Óleo do navio Bouboulina teria sido derramado a 700 km da costa nordestina entre 28 e 29 de julho
Foto: Foto: Reprodução

Após dois meses desde o aparecimento das primeiras manchas de óleo nas praias do Nordeste, as autoridades começaram a desvendar a origem do maior desastre ambiental do País em extensão ambiental. Um petroleiro com bandeira grega é o principal suspeito de vazar o petróleo, com impactos negativos na fauna e na economia da região atingida. Não se sabe ainda se o derramamento foi acidental ou intencional. O navio pertence à empresa grega Delta Tankers.

A investigação se concentrou na observação de imagens de satélite de 30 navios e chegou à conclusão de que o Bouboulina é o "principal suspeito" do desastre, informou, ontem, um comunicado do Ministério da Defesa, da Marinha e da Polícia Federal.

Segundo o Ministério Público, o dano desse derramamento é de "proporções imensuráveis". O desastre ambiental atingiu estuários, manguezais e foz de rios em todo o Nordeste brasileiro, com prejuízos para as atividades pesqueira, de maricultura e turística.

Até ontem, as manchas apareceram em nove estados, 101 municípios e 296 localidades. Milhares de voluntários se mobilizaram para limpar as praias, muitas delas com grande atrativo turístico, de onde foram retiradas toneladas de hidrocarboneto.

Foram encontrados 110 animais afetados pelo óleo, sendo 81 mortos. Cerca de 68% dos animais contabilizados eram tartarugas-marinhas.

"Deixei de fazer minhas coisas, minhas obrigações para vir limpar. Amo este lugar. Não vou ficar de braços cruzados. Se houver voluntários que queiram vir nos ajudar a continuar limpando a praia, que venham. E que os turistas voltem, isso é o que a gente quer", disse Gláucia Dias de Lima, uma vendedora de coco na praia de Itapuama, a cerca de 30 km de Recife.

O empresário Eduardo de Oliveira, de 28 anos, expressa certo alívio pela identificação da origem das manchas e espera agora respostas rápidas para limitar os prejuízos do acidente antes das festas de fim de ano, em pleno verão.

"Claro que é importante saber de onde as manchas vêm, por todo o problema que nos trazem, não só em Pernambuco, mas em todo o Nordeste. Porque as pessoas do Sul e do Sudeste vêm aqui para passar férias, e isso afeta muito a economia", diz Eduardo na pausa de uma partida de voleibol na praia de Boa Viagem, com uma temperatura de 30 graus.

Preocupação

A ONU já expressou sua "profunda preocupação" pela maré negra que provoca "danos incalculáveis nos ecossistemas marítimos e terrestres e na vida das populações".

Esses balanços contrastam com as avaliações do governo do presidente Jair Bolsonaro, acusado por especialistas e ONGs de ter reagido tardiamente e de minimizar a importância do desastre.

"Os pescadores não estão saindo para o mar porque a população não quer comprar. Houve notícias de que o produto estava contaminado, mas ainda não temos a resposta concreta de algum cientista", disse Sandra Lima, presidente de uma colônia de pescadores de 1.500 integrantes de Recife.

Ontem, inicialmente, as autoridades se abstiveram de informar o nome do navio, mas a informação constava do despacho do juiz federal Francisco Eduardo Guimarães Farias, da 14ª Vara Federal em Natal. O juiz determinou busca e apreensão na empresa Lachmann Agência Marítima, que foi agente marítimo da Delta Tankers no Brasil. Outra empresa foi alvo de busca e apreensão autorizada pelo juiz, a Witt O Brien's. Ambas as empresas negam, em notas, envolvimento com o caso.

Descarga no mar

Uma das pistas sobre o que ocorreu no navio pode estar em um registro vindo dos EUA. O Bouboulina ficou detido lá por quatro dias, conforme documento encaminhado pela Marinha à Polícia Federal. A detenção ocorreu por "incorreções de procedimentos operacionais no sistema de separação de água e óleo descarga no mar".

Construído em 2006 e nomeado em homenagem a Laskarina Bouboulina, heroína da Guerra da Independência Grega, o navio mede 276m de comprimento e pode carregar até 164 mil toneladas. Seu porto de origem fica na cidade de Pireu, vizinha a Atenas.