Ciro: mistificação do tema aborto é ´calhordice´

Escrito por Redação ,
Legenda:
Foto:
O deputado disse que o futuro presidente terá zero poder sobre o assunto e só o Congresso pode regulamentá-lo

São Paulo - Convidado para ser um dos coordenadores da campanha da petista Dilma Rousseff à Presidência da República, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) considera uma "calhordice" a mistificação religiosa em torno do debate do aborto. Apesar de ter sido afastado da corrida presidencial por decisão do PSB, a mando do Planalto, Ciro garante não ter guardado ressentimento. "Eu sou um dos eleitores que potencialmente poderia ter votado na Marina por tudo que aconteceu. Não votei porque sou militante, meu partido tomou alinhamento", afirma. Reconheceu ainda que a mudança de seu título de eleitor do Ceará para São Paulo foi o "maior erro" que cometeu na vida.

Ao referir-se ao tema aborto que dominou o debate político semanas antes do primeiro turno, Ciro afirmou que o assunto foi usado em prol da candidatura de Serra. "O pior é trazer para a luta política brasileira um homem como o Serra, qualificado, preparado, experiente, homem de valor, e o PSDB trazer em socorro de sua débâcle eleitoral a calhordice da mistificação religiosa. É grave para o País. O Brasil tem uma tradição que o mundo inteiro admira, que é a tolerância religiosa, é o Estado laico. Aí a imundície está tomando conta, essa coisa do ódio religioso, da intolerância trazida para a política", afirmou.

Ciro não acredita que a disseminação, principalmente na internet, de que Dilma seria favorável ao aborto atrapalhou a sua eleição em primeiro turno. Entende que a petista falou com muita clareza que não é a favor do aborto. "A questão é posta em si em termos calhordas, desonestos. Ninguém é a favor do aborto. Isso é um assunto da intimidade da mulher, da família, de seu conjunto de valores morais, éticos, religiosos e uma ação de saúde. Essa é a única discussão possível. O presidente da República tem zero poder nesse assunto. Só quem pode regulamentar esse assunto é monopolisticamente o Congresso", observou o deputado.

Ciro avaliou ainda que, a mãe da liberdade de imprensa é o Estado republicano laico e que os aiatolás, os talibãs e os seus afins não permitem a liberdade de imprensa, não permitem que as mulheres tenham liberdade. "É isso que estamos querendo trazer para o Brasil? É violar essa conquista centenária do povo brasileiro, por oportunismo?, indagou.

Cardeal

Sem manifestar preferência partidária, o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Pedro Scherer, defendeu ontem que os candidatos à Presidência da República tenham um "posicionamento claro" sobre a questão do aborto e avaliou como "parte do jogo democrático" a presença do tema na campanha eleitoral.

Na opinião do religioso, é importante que o assunto seja debatido pelos presidenciáveis, posto que " os eleitores querem saber". Ele descarta punição a religiosos que contrariarem a determinação da CNBB de não se manifestarem sobre questões partidárias, uma vez que "são livres para se manifestar". Para o cardeal, é "legítimo" que haja divergência de posições.