Brasil já investiga três suspeitas de infectados pelo novo coronavírus

Ministério da Saúde apura se pacientes em Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre estão contaminados pelo vírus que ameaça se tornar uma epidemia mundial, após 131 mortes na China, onde moram pelo menos 14 cearenses

Escrito por Redação , pais@svm.com.br
Legenda: Novo coronavírus se propaga pelo mundo
Foto: Foto: Shutterstock

O Governo Bolsonaro confirmou, ontem, os três primeiros casos suspeitos de infecção pelo novo coronavírus, que já matou 131 pessoas na China. Estão sendo investigadas suspeitas em Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS) e em Curitiba (PR), segundo o Ministério da Saúde.

De acordo com a Pasta, os pacientes se enquadram na classificação por apresentarem sintomas, como febre, tosse e dificuldade de respirar e ter histórico de viagem à China nos últimos 14 dias. Os pacientes serão monitorados e ficarão isolados até que os resultados dos exames sejam divulgados, o que deve acontecer até o fim da semana.

A epidemia do novo coronavírus que apareceu na China, o 2019-nCoV, afetará no mínimo milhares de pessoas e vai durar pelo menos vários meses, segundo especialistas em epidemiologia, com base nos primeiros dados disponíveis. "Não é algo que vai acabar na próxima semana, ou no próximo mês", disse Alessandro Vespignani, professor da Northeastern University (EUA) e que integra um grupo de pesquisadores de um painel on-line sobre o surto.

A nova pneumonia viral preocupa quem mora nos países onde há casos confirmados. O presidente Jair Bolsonaro afirmou, ontem, que "não seria oportuno" trazer para o Brasil a família de brasileiros que está internada nas Filipinas com suspeita de terem contraído o coronavírus. Segundo Bolsonaro, isso iria trazer riscos para o País. Os pacientes seriam um casal e uma criança de 10 anos, que viajaram para Wuhan, cidade chinesa onde surgiu o surto do novo vírus.

Ontem, o embaixador do Brasil em Pequim, Paulo Estivallet de Mesquita, afirmou que a China não autorizou a saída de brasileiros nas cidades sob quarentena, a exemplo de Wuhan, local de origem do coronavírus, na província de Hubei. Um dos 31 nomes do grupo de brasileiros que pediram ajuda ao Itamaraty para sair da China, Marcelo Alves Vasconcelos, 39, mora em Qianjiang, também em Hubei, e resumiu o sentimento daqueles que estão confinados em suas próprias casas. "Estamos totalmente desamparados".

O engenheiro Gabriel de Noronha, 46, que mora em Wuhan com a mulher e dois filhos, expressou sua indignação por não obter apoio das autoridades brasileiras para tirar sua família da China: "Estamos todos revoltados com a posição da Embaixada do Brasil. Se fosse uma regra para todos os países, tudo bem. Mas não é isso. Todos os estrangeiros estão saindo".

Para o urbanista Higor Carvalho, 33, que cursa doutorado em Wuhan, o desafio tem sido "lidar com medo e ansiedade". "Estamos há uma semana sem sair de casa e não sabemos quantas semanas ou meses isso vai durar. Nosso medo é que a vida se torne cada vez mais difícil, seja por eventuais dificuldades gerais de abastecimento, seja por desdobramentos imprevisíveis da epidemia".

Cearenses

Pelo menos 14 cearenses adultos podem estar em duas cidades chinesas onde houve registros de mortes pelo coronavírus. São cinco na capital Pequim (21,5 milhões de habitantes), e outros nove em Xangai, a maior cidade do país asiático (24,2 milhões de habitantes).

Os dados foram extraídos de um levantamento realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a pedido da reportagem do Diário do Nordeste, sobre títulos de eleitores nascidos no Estado do Ceará que transferiram seu domicílio eleitoral para o exterior.

Autoridades locais, tanto no Governo do Ceará como na Prefeitura de Fortaleza, não possuem esse tipo de levantamento e evitam fazer estimativas. Por enquanto, a Secretaria de Saúde do Ceará não se pronunciou oficialmente sobre o coronavírus.

Aeroporto

No Aeroporto de Fortaleza, um aviso sonoro sobre o coronavírus começou a ser emitido, seguindo uma diretriz da Anvisa, com orientações aos passageiros e tripulações sobre essa ameaça global de saúde pública.

Vacina

Já pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA e os laboratórios Johnson & Johnson começaram a desenvolver possíveis vacinas contra um vírus mortal, um trabalho que vai levar meses, disseram autoridades ontem. "Já começamos no NIH e com muitos de nossos colaboradores o desenvolvimento de uma vacina", declarou o diretor do organismo Anthony Fauci, falando à imprensa em Washington junto do secretário de Saúde, Alex Azar.

O desenvolvimento ocorre em colaboração com a firma de biotecnologia Moderna, com sede em Cambridge, Massachusetts, também financiada para este projeto pela Coalition for Epidemic Preparedness, uma organização de associação público-privada.

Anthony Fauci admitiu que é possível que a epidemia entre em declive antes que a vacina fique pronta, como foi o caso com a epidemia Sars, em 2002 e 2003. Levará três meses um teste de fase 1 e mais três meses para obter dados antes de, eventualmente, lançar um teste de fase 2 com um número maior de pessoas, disse ele. "Mas estamos procedendo como se tivéssemos que criar uma vacina", disse.

Já Azar pediu às autoridades chinesas "maior cooperação e transparência" para obter uma "resposta efetiva", enquanto Pequim não autorizou a entrada de equipes de especialistas americanos.

Charge

Já o jornal dinamarquês "Jyllands Posten" se negou, ontem, a pedir desculpas à China pela publicação de uma charge do coronavírus, o que provocou a ira da embaixada da China em Copenhague.

A charge mostra uma bandeira chinesa e, no lugar das tradicionais estrelas amarelas na parte superior esquerda, há desenhos do novo coronavírus. A embaixada da China na Dinamarca classificou a charge de "insulto à China, que fere o povo chinês". O desenho superou o "limite ético da liberdade de expressão". A embaixada exigiu do jornal e de seu cartunista "uma desculpa pública ao povo chinês".

Máscaras sem 100% de garantia

As máscaras cirúrgicas, que voltaram a ser usadas aos milhares na Ásia, devido ao avanço do novo coronavírus, são essenciais para as pessoas doentes e recomendadas nas regiões mais afetadas, mas não garantem uma proteção de 100% contra a epidemia.

Com a rápida disseminação da doença, as vendas de máscaras, geralmente baratas e de papel, explodiram na região, mas seu uso já é comum na Ásia contra a poluição.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselha cobrir a boca e o nariz em caso de tosse e espirro, e é essencial para os doentes, a fim de limitar os riscos de contágio. Mas para aqueles que não apresentam sintomas, sua “eficácia não está comprovada”, segundo o Ministério da Saúde francês. “Elas não dão 100% de garantia”, diz Satoshi Hiroi, do Instituto de Saúde Pública de Osaka. Como não estão completamente presas ao rosto, elas deixam o ar entrar sem filtragem, e você pode inalar o vírus, explica. 

Os especialistas também insistem em que, após algumas horas, devem ser trocadas. Ainda é difícil se prevenir efetivamente contra o novo coronavírus. Há evidências de contaminação de pessoa para pessoa, mas ainda não se sabe se o vírus é propagado pelo ar ou por contato. A lavagem das mãos com sabão, ou álcool, e lenços de uso único são também recomendados.

Cuidado com comidas

Quem viajar para países com casos de coronavírus deve ficar atento à alimentação. Segundo a OMS, há suspeitas de que o surto tenha começado depois que os primeiros infectados visitaram uma feira de peixes e animais vivos em Wuhan. “Quem viajar para a China deve tomar muito cuidado com a comida. Não sabemos de que animal veio o vírus mutado. Se for comer carne, que ela seja bem passada. Também não é recomendável entrar em contato com animais ou visitar as feiras livres”, diz o diretor da divisão médica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Ralcyon Teixeira.

Doenças crônicas

A doença causada pelo novo coronavírus e a Sars apresenta sintomas comuns. Todos os pacientes sofriam de pneumonia, quase todos tinham febre, três em cada quatro tossiam e mais da metade apresentava dificuldades respiratórias. A idade média dos 41 pacientes é de 49 anos, e menos de um terço sofreu doenças crônicas (diabetes, problemas cardiovasculares). Quase um terço teve uma condição respiratória aguda.

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