Amarildo levou choques elétricos

Escrito por Redação ,
Dez policiais da UPP da Rocinha foram indiciados por tortura seguida de morte e ocultação de cadáver

Rio de Janeiro. Amarildo de Souza foi submetido a choques elétricos e asfixiado com saco plástico. Segundo investigação da Divisão de Homícidios, que levou ao indiciamento de dez policiais militares pela morte do ajudante de pedreiro, Amarildo era epilético e não resistiu à sessão de tortura que ocorreu em um dos contêineres da UPP.

Pelo menos, três moradores da comunidade denunciaram que foram torturados dentro do mesmo contêiner que Amarildo esteve com policiais FOTO: AGENCIA BRASIL

Ainda segundo o inquérito, o major Edson Santos e seus comandados pretendiam arrancar dele informações sobre a localização de armas e traficantes da parte baixa da favela, onde ele vivia com a família. Pelo menos, outros três moradores da comunidade denunciaram que foram torturados dentro da mesma unidade por policiais.

Dez policiais militares, da UPP da Rocinha, entre eles o major Edson dos Santos, foram indiciados pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Oficial formado pelo Bope, Santos era o comandante da unidade quando ocorreu o sumiço, em 14 de julho. E foi ele quem disse à família de Amarildo que o pedreiro teria deixado a sede da UPP, pouco depois de ter a identidade checada.

A partir do sumiço de Amarildo, foram instaurados quatro inquéritos na Polícia Civil.

Enquanto a Divisão de Homicídios conclui a investigação sobre a morte, a 15ª DP (Gávea) apura outros casos de tortura durante a apuração da Operação "Paz Armada", e a Corregedoria de Polícia Civil investiga desvio de conduta durante os primeiros dias de investigações sobre o sumiço do pedreiro.

A corregedoria da PM também apura paralelamente, inclusive, o desvio de recursos da UPP, que veio à tona em depoimentos colhidos na DH. A parte relacionada ao crime de apropriação indébita vai ficar com a PM. O promotor do Ministério Público do Rio (MPRJ) Homero Freitas recebeu o inquérito da Divisão de Homicídios na noite da última terça-feira. Ele deve oferecer a denúncia à Justiça nos próximos dias.

Os policiais negam envolvimento no sumiço e dizem que liberaram Amarildo, no dia 14 de julho, depois de constatar que não havia qualquer mandado de prisão contra ele.

Para a sobrinha de Amarildo, Michelle Lacerda, que participou ativamente de campanhas para denunciar o desaparecimento do pedreiro, o caso servirá para que a Polícia aprenda a respeitar os direitos dos moradores que vivem em comunidades pobres da cidade.

De acordo com o promotor Homero Freitas, depoimentos e provas técnicas comprovam a participação dos policiais no desaparecimento de Amarildo no dia 14 de julho. "O Amarildo não desceu a escada por onde os policiais dizem que ele passou", afirma o promotor.

Segundo ele, três câmeras estavam instaladas próximo à sede da UPP. Duas estavam sem gravar, mas uma funcionava normalmente e não registrou a passagem do pedreiro, ao contrário do que disseram os policiais.

Amadurecimento

A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) afirmou ontem que o indiciamento de dez policiais no caso Amarildo "indica amadurecimento das instituições". Segundo a ministra, se os PMs forem condenados, vão reforçar a necessidade de um debate sobre uma reforma nas polícias que assegure um atendimento mais cidadão.