Transação da Independência

Há 197 anos, o Brasil, já Reino Unido a Portugal, declarava sua independência. Após o grito da burguesia do Porto, sentindo-se colônia do Brasil, na revolução de 1820, as elites brasileiras acercaram-se da Família Real para consolidar sua permanência e os ganhos econômicos e políticos auferidos com a “interiorização” da metrópole desde 1808.

As conjurações coloniais por independência, do fim do século XVIII, quedaram soterradas pelas liberalidades econômicas e político-administrativas da colônia no período joanino. A nova geografia política, resultante da instalação da Corte no Rio de Janeiro, fez intensificar as relações de complementaridade entre as províncias do centro-sul, centralizando negócios e decisões em detrimento do norte açucareiro pernambucano-baiano e amazônico do Grão-Pará.

O Brasil não se reconhecia como uma nação e estava longe de uma ideia unificadora entre suas províncias díspares e distantes. Entretanto, as elites econômicas fluminense, paulista e mineira, assentadas na agricultura, pecuária e crescente comércio - também de “viventes” -, tinham muito a defender frente ao retrocesso do projeto recolonizador das Cortes, de enganoso constitucionalismo liberal. Aos bons negócios com a Corte e o novo status com títulos de nobreza, a elite brasileira somava imensa escravaria e latifúndios a perder de vista. Assim, mais que liberdade, ela vislumbrava autonomia e estabilidade, desde que num cenário político monárquico liberal-conservador.

E a Independência com a separação – rejeitada desde o início pelo partido brasileiro –, acabou por se dar sem o liberalismo radical das revoluções com anseios democratizantes para não afetar a “coesão do elitismo” nem “relaxar a disciplina da escravatura”, verdadeiro pavor dos “homens bons”. Rompidos os laços, o povo foi chamado à guerra contra as resistências portuguesas e à festa da aclamação do imperador.


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