Tragédias e escolhas

Édipo se preocupava com o bem-estar do seu povo. Durante uma peste que atormentou a cidade de Tebas, enviou um cunhado seu para consultar o oráculo dos deuses - esse era o conhecimento médico da época. Não era um homem excepcionalmente bom. Tinha defeitos, como a desconfiança, como o próprio desenvolvimento da história revelaria. No geral, era bom rei e boa pessoa.

Diante de tristes acontecimentos recentes, alguns usam o nome "tragédia". É interessante revelar o que a palavra implica. E para tanto, nada melhor que se inspirar no Édipo-rei, de Sófocles. Para Aristóteles, foi essa a melhor tragédia já escrita, e que inspirou o seu Tratado "Poética".

Édipo reinava sobre Tebas. E decididamente não ficou parado. Tentou de tudo para melhorar a sua situação e de seu povo. Seu cunhado trouxe a notícia de que a praga só pararia quando se julgasse o homem culpado pela morte de certo antigo monarca. Édipo investigou, foi atrás do homem. Buscou informações, consultou videntes e testemunhas.

Muito anos antes disso, Édipo recebera a notícia de que ele estava destinado a matar o seu pai - pois pensava que era filho de outro. Tomou providência sensata - fugiu para longe. Nessa fuga, encontrou por acaso o seu verdadeiro pai, e o matou em uma rusga de estrada. E anos depois, conduz as investigações que o fazem saber da própria desgraça.

Tragédia tem a ver com inevitabilidade - não com inação, nem mesmo com ações (ou políticas) erradas. Édipo fez o que era correto, fez o racional - mas ninguém escapa dos desígnios dos deuses.

Fabricar máquinas de matar a baixo custo (armas de fogo) e não manter adequadamente obras de engenharia - nada disso é inevitável. Tomando-se as medidas adequadas, problemas são prevenidos. Édipo não ignorou as informações. Ele quis resolver - a tragédia veio da inevitabilidade.

Já nossas desgraças não são tragédias - são escolhas.