Toinho, o faz-tudo em telhados

Morador da Rua Viriato Ribeiro, na Bela Vista, Toinho das Goteiras era requisitado a serviços no bairro e demais áreas da Capital. Vivia sempre atarefado e conquistara fama.
Até meados do século passado, sua marca fez-se presente em muitas coberturas de residências. Não possuía uma especialidade, dominava e executava todas. Desde a feitura de tesoura, treliça de madeira triangular apoiada em dois pontos para sustentação do encaibramento, enripamento, telhado e os acabamentos externos.

Confeccionava calhas, biqueiras e condutores de escoamento de águas pluviais, bicas simples, do tipo boca de jacaré, meia-cana e fixadores desses acessórios.

Devido às telhas da época serem artesanais e, logicamente, com dimensões e curvatura imprecisas, de barro com consistências variáveis, o trabalho eficiente do entelhador mostrava-se obra de arte.

O capote, o beiral, as beiras e bicas e seus encontros esquinados pontiagudos, realizados com as telhas antigas, exigiam quase o impossível nas elaborações.
Também os retelhamentos e consertos de eliminação de goteiras desafiavam os melhores artífices.

Quando lançadas as telhas chamadas coloniais, produzidas industrialmente, com engates, formatos e tamanhos exatos, Toinho segurou umas, avaliou-as em relações as anteriores e disse: “Agora, acabou nosso ofício e ganha-pão. Perdeu a graça a gente subir nos telheiros e tirar defeitos. Tão insultando as velhas, chamando de ‘telha de carregação’. É desaforo muito!”.

Razão tinha aquele profissional ao recordar os invernos de fortes chuvas, que conseguiam provocar respingos no interior da casa, fazendo as pessoas traspassarem as laterais e varandas das redes, protegendo-se. E, sobre as dos idosos e crianças, armavam outra, abrindo-a com uma vara ou cabo de vassoura, colocado transversalmente, servindo de coberta. Era a denominada “tolda”.


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