Tempos festivos da palmatória

Época da colonização brasileira pela coroa portuguesa. Instrução religiosa iniciada com a catequização jesuíta, “civilizando” indígenas pelas mãos, pois olhos e ouvidos não bastavam. Necessário, assim, impor à secular “pedagogia” originária do Velho Mundo. E, das aldeias para as escolas, o caminho “cultural” fez-se curto, rápido e duradouro.
Até meados do século passado, em especial nas cidades interioranas, o rigor do ensino firmava-se costumeiramente com os castigos físicos. Nas salas escolares, além dos bancos ou carteiras, da mesa do professor e do quadro negro ou lousa, conservava-se pendurada, em local bem visível, a temida palmatória! Objeto indispensável a um respeitável catedrático.

De resistente lenho era esculpida, começando na feitura de um cabo roliço e terminando numa forma circular de igual espessura.

Erros do aluno resultavam nos “bolos” – pancadas desferidas nas palmas de suas mãos – dados pelo docente ou por colegas de classe designados, usando o temido instrumento. Às vezes, o educando sofria a punição ajoelhado.

Os inchaços, causados pelo estúpido corretivo, denotavam-se comuns, principalmente, ao término das aulas cantadas para o aprendizado da leitura silábica e da tabuada.
Ao fim do ano, nas férias, os estudantes podiam esconder a férula.

No retorno escolar, dava-se a tradicional Festa da Palmatória. Alegre passeata estudantil pelas ruas. À frente, num andor enfeitado com papéis celofane e crepom, pendiam fitas multicores e via-se enfiada a “Santa Tesa”, como a apelidavam.

A chegada do cortejo no educandário recebia aplausos, composições a cargo da banda de música municipal, foguetório, discursos e, ao encerramento, missa campal de bênçãos à estudantada.

O restante da data destinava-se a entretimentos daqueles que, no dia seguinte, voltariam a encarar mais um período e a fera impiedosa.


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