Talentos escravizados

Costuma-se sugerir talentos. Não se contam famílias que o adotaram, desde época remota. Mesmo os possuindo, os infantes não possuem liberdade de ir ao encontro da profissão pela qual sentem paixão. Não lhes é dado o sagrado direito de pender para o que soa motivador a exercer a profissão escolhida. Até ancestrais, muito distantes, se acham no direito de lhes encaminhar a uma profissão tida por “ideal” ao seu perfil de crianças/adolescentes inteligentes e aplicados. Não se importam se essa garotada, mal chegada à adolescência, se verá diante de um destino cruel que lhes traçaram, sem se importarem com seu desassossego, angústia, desajuste profissional, antes e após serem jogados nesse “buraco sem luz”, do agrado exclusivo de quem lhes ofertou verdadeira armadilha egoísta.

Argumentação, pretensamente a mais forte, resume-se na inconsistente explicação de que, com eles aconteceu de forma semelhante, e nada de adverso lhes atingiu.
Esquecem, entretanto, que, aos amados descendentes, é imposto claro desvio à sua personalidade, os levando a uma situação indesejada, quiçá motivadora de insatisfação por toda a vida.

O pátrio-poder não é tão abrangente a ponto de legitimar-se no desvirtuamento do direito de escolha profissional dos rebentos. A própria Constituição preleciona sobre a liberdade de todos brasileiros, na garantia do direito de ir e vir e de expressões de seu subjetivismo; a profissão é uma dessas (art. 5º). Família saudável não é, somente, a que tem higidez. O poder de ancestrais de dizer da profissão a ser abraçada pelos filhos/netos etc é sinal claro e monstruoso desprezo pelo seu inegociável e insofismável talento, em nome de abominável autoritarismo.

Aos descendentes deve-se garantir direito à escolha profissional, orientando-os, sim, sem alvitre. Perfil profissional é desempenho, não aparência!


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