Ser solidário

Solidariedade não se estabelece por lei. Ninguém é obrigado a ser solidário por decreto ou por qualquer outra formalidade legal.

É-se por opção de vida, por formação, por consideração à pluralidade, por respeito aos outros, por dedicação ao bem coletivo, por noção de humanidade.

Por amor, enfim. Embora seja um preceito moral, religioso e mesmo jurídico - posto que está compreendido desde livros sagrados até a Constituição Federal, que determina no Artigo 3º que "Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. 

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Construir uma sociedade livre, justa e solidária" - não há fronteiras para a solidariedade.

Recorremos aqui ao poeta cubano Silvio Rodriguez, em "Por Quem Merece Amor": "Meu amor não precisa fronteiras;/ Como a primavera/ Não prefere jardim". 

No entendimento dele, não se escolhe a quem se solidarizar, porque para tanto não existe limite. Trata-se, portanto, de uma noção respeitável do que é viver a solidariedade. E é a propósito de dois espinhosos episódios recentes que podemos ter dimensão do quanto é possível compartilhar, distribuir, dividir - o desabamento do edifício Andrea, em Fortaleza, no último dia 15, e a poluição de mais de 20 praias cearenses por manchas de óleo, na semana passada.

Não faltou quem arregaçasse as mangas e pusesse mãos à obra de ajudar os demais. Mesmo sob riscos, conhecidos e desconhecidos, formaram-se correntes de amparo e esforços num sentido só. Ninguém soltou a mão de ninguém. Voltemos a Sílvio Rodrigues, então: "Meu amor é tudo o quanto tenho;/ Se eu o nego ou o vendo,/ Para que respirar?"


Roberto Maciel

Jornalista


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