Senador vitalício do povo II

Crato e a região do Araripe dizia pertencerem-lhe. Senador Epifânio Pinheiro Bezerra de Menezes que, assim tratado, exigia: “Corte o Epifânio e o de Menezes! Senador Pinheiro Bezerra é mais eufônico e político!”. Em seguida, afirmava: “Aqui e na serra, o povo vive de graça! Nada lhe é cobrado!”.
Data do aniversário. Recepção na Sorveteria Glória, Praça Siqueira Campos.

“A Canalha”, como nominava o seleto grupo que bancava suas mordomias, organizava a festa. Comes e bebes a fartar. Presentes vários, inclusive rica e completa roupagem anual.

Em meio ao festejo, informam que o Santo Padre está ao telefone e deseja falar-lhe. Olhos marejados, o Senador segura o fone, ajoelha-se e pede a bendição papal. Depois, anunciam telefonema do governador Agamenon Magalhães. “Falo com ele! Muito grande amigo!”.

1955. O general Teixeira Lott, candidato à presidência da República, esteve na cidade para um comício. Por “esquecer da permissão” do Senador, quase era impedido. Carlos Lacerda, de igual forma.

Na rua, alguém a ele se destina: “Sua bênção, papai!” E a reprimenda: “Todo filho de rapariga me chama de pai pra receber a herança!”.

Novo gerente do Banco do Brasil assume. Está na agência e não conhecia o Senador, que entra e o enxota: “Quem mandou você tomar conta do meu banco?”. Médico, recém-chegado, também foi expulso do consultório, pois não possuía autorização para clinicar no município, nem ocupar prédio dele.

Dádiva a afilhado, no batizado, somava 1 milhão e 500 mil cruzeiros. A um motorista que, seduzido pelas gabolices pediu-lhe 5 mil contos, repreendeu: “Aprenda a conhecer os homens! Não faço transações com ninharias!”.

Vangloriava-se que com a viuvez não cessava a cobiça das donzelas. “Só no Crato, querem casar comigo 24 belas senhoritas, sendo oito ainda alunas do colégio das freiras!”.