Sambando no céu

E Beth Carvalho nos deixou! Triste notícia para os admiradores de sua simpatia e de seu talento. A eterna Madrinha do Samba juntou-se à brilhante plêiade celestial de intérpretes e compositores brasileiros que já lá estão, num eterno e animadíssimo pagode no céu. Com mais de 50 anos de carreira na MPB e mais especificamente no samba, Beth vinha sofrendo havia tempos com problemas na coluna que, aos poucos, agravaram seu estado de saúde. Desde janeiro estava hospitalizada e, na semana passada, faleceu, aos 72 anos. Dona de voz marcante e dum carisma indiscutível, ela recebeu o título de Madrinha do Samba por ter ajudado a descobrir talentos deste ritmo tão nosso, que expressa, em suas letras, as dificuldades, alegrias, amores e desamores de nosso povo. Entre os "afilhados" estão Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e Almir Guineto. Fará falta, certamente, neste País onde o nível musical de hoje beira a mediocridade completa, embora a mídia insista em incensar, em bajular "artistas" de pouco ou nenhum talento, servindo a obscuros e escusos interesses.

O samba tem sido um dos gêneros musicais legitimamente brasileiros que, nas últimas décadas, perderam muitos nomes de peso. Enquanto os bons sambistas em atividade vão desaparecendo ou imergindo no esquecimento - muitas vezes, por conta da própria mídia, repito - , o "time do Céu" engrossa suas fileiras. De Ernesto dos Santos (Donga) e Mauro de Almeida - autores do primeiro samba gravado, "Pelo Telefone" (1917) - , passando por Noel Rosa, Sinhô, Heitor dos Prazeres e outros compositores mais recentes, como Ataulfo Alves e Mário Lago, ou intérpretes como Clementina de Jesus, Clara Nunes, Agepê, João Nogueira e Roberto Ribeiro, entre tantos, sobra inspiração no plano superior. Felizmente, ainda que agora estejam "sambando no céu", Beth e os demais legaram-nos suas interpretações, para sempre indeléveis na memória dos brasileiros.


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