República no Brasil

Os agitados últimos anos que temos vivido na República brasileira são bons motivos para pensarmos os 130 anos da implantação dessa forma de Governo no Brasil.

Nossa República não nasceu com a Independência para não arriscar mudança na ordem social escravista pela divisão da elite, e sua implantação contra a Monarquia é resultante da aliança dos interesses cafeeiros paulistas com as indisposições corporativas do Exército, sem maiores preocupações cidadãs.

De lá para cá, tivemos crescimento econômico, modernização, urbanização, industrialização e ascensão política das massas, direitos civis, políticos e sociais, porém mantendo arcaicas estruturas socioeconômicas e hierarquias excludentes que consolidam enormes desigualdades e emperram a cidadania plena.

Do impeachment da presidenta Dilma Rousseff ao Governo atual, presenciamos esgarçamento das regras de civilidade nos rumos tomados por nossa jovem democracia eleitoral, contaminada pelo vírus da polarização ideológica com disseminação de práticas fascistoides de inimigo político. Também com violência política sem precedentes na cena pública, aliada ao inflamável fundamentalismo religioso no aparelhando do Estado, a demonstrar que as instituições republicanas, nos três poderes, estão reféns de atavismos reacionários, autoritários e obscurantistas.

Assim, para nossa República hoje, mais que revisitar a efeméride em seu varejo factual, precisamos defender as conquistas da ordem democrática e do Estado de Direito, para a construção de uma sociedade justa, com o revestimento dos valores ideais da coisa pública.

Marcos José Diniz Silva

Historiador e professor da Uece