Renovação improvável

A despeito da insatisfação popular quanto à classe política, a tendência é que não haja mudança drástica na composição das casas legislativas após o pleito de outubro. Como medida de autodefesa, os grupos dominantes esforçaram-se, em meio à crise de credibilidade, para formatar o sistema eleitoral de modo a dificultar a admissão de neófitos e asseverar a longevidade dos veteranos.

Por óbvio, valer-se de vantagens como boas fatias do fundo partidário e muito tempo de exposição na televisão não são sinônimos de vitória; mas essas são algumas das ferramentas que podem ser preponderantes para o resultado positivo.

Embora nada seja garantido, o provável é que os candidatos dotados de sustentáculos estrutural e financeiro consistentes se sobressaiam em relação aos que não possuem tais pontos de apoio.

De acordo com dados da Câmara dos Deputados, quase 80% dos legisladores federais tentarão a reeleição neste ano. Dos 513 deputados, 407 querem prolongar sua permanência na Casa.

Esse contingente é maior do que o de 2014, quando 387 intentaram prosseguir no cargo por mais quatro anos. Conforme o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o número de 2018 está em conformidade com a média das últimas sete eleições, que é de 408 parlamentares em busca da recondução.

Dos 106 deputados restantes, dois pleiteiam a Presidência da República; 40 aspiram a vagas no Senado; oito querem ser governadores; 11, vice-governadores; e oito tentam postos no legislativo estadual. Sobram apenas 37 que não concorrerão a nenhum cargo.

No Senado Federal, em torno de 60% dos eleitos em 2010 para o mandato de oito anos está na corrida deste ano para seguir na Casa até 2026.

A considerável porção de congressistas dispostos a perseguirem a reeleição indica que, de maneira geral, os políticos não se acanharam ante a repulsa notória dos cidadãos. Nem mesmo as manifestações de rua dos últimos anos serviram para que parte da classe política fizesse o autoexame e as mudanças necessários à melhoria de sua imagem.

Embora a Operação Lava Jato tenha exposto as entranhas do mecanismo de corrupção que se tornou usual nos porões do poder, não houve, de maneira consoante, uma reforma adequada no sistema político que o tornasse mais confiável aos olhos da sociedade.

Cabe frisar que a cobrança natural e compreensível por renovação não significa que o eleitor deseja a implosão da política. O anseio é pelo surgimento de novas lideranças, de figuras que tenham ideias arejadas e não estejam incrustadas no pântano tenebroso das práticas escusas com a entidade pública.

Todavia, pondere-se: trocar nem sempre é o mesmo que renovar. Com frequência, alguns medalhões polêmicos da política saem dos holofotes pela pressão, mas mantêm a corrente de poder ao eleger parentes e apadrinhados. E o momento de desilusão também é propício para o aparecimento de indivíduos arrivistas que usarão esse sentimento apenas para se beneficiarem.

Tudo conspira para que a renovação efetiva na política nacional se dê de forma lenta. Os traumas recentes ainda não deram ao País a maturidade para atacar as questões axiais para a evolução da democracia brasileira. Diante disso, é provável que velhos costumes se arrastem por mais tempo, favorecendo a continuidade de trabalhos que não almejam a mudança esperada pela sociedade. Mas a resposta final estará nas urnas.