PROTEÇÃO DEFICIENTE

As últimas duas décadas foram marcadas por melhorias na saúde de crianças e adolescentes, conforme levantamentos transnacionais. Contudo, a curva antes ascendente chegou a um ponto de estagnação e, segundo análise de especialistas, estaria pronta para fazer caminho inverso. O quadro foi detalhado no relatório "Um futuro para as crianças do mundo?", elaborado por 40 especialistas em saúde de crianças e adolescentes de todo o mundo. A comissão é formada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela tradicional revista científica britânica The Lancet.

O estudo é taxativo: hoje, nenhum país protege adequadamente a saúde das crianças. O problema não é tão somente a falta ou a deficiência de políticas públicas de saúde voltadas para as populações mais jovens e em desenvolvimento. Os pesquisadores alertaram ainda sobre os efeitos particularmente danosos da degradação ecológica e, associadas a ela, as mudanças climáticas. Há ainda o combo do marketing que estimula o consumo de alimentos não saudáveis e o controle insuficiente sobre estes produtos.

Foi elaborado um índice global, considerando a performance de 180 países. Leva-se em conta indicativos de desenvolvimento infantil, relacionados a medidas de sobrevivência e bem-estar infantil (saúde, educação e nutrição); sustentabilidade (emissões de gases de efeito estufa); e desenvolvimento social, representado pelos dados relativos a desigualdade de renda. O Brasil está posicionado num lugar equidistante dos países mais bem posicionados e daqueles que figuram no fim do ranking. Está na 90ª colocação, o que deixa claro que há muito o que se melhorar tendo em vista o bem-estar das novas gerações.

A mirada global sobre o problema é oportuna. As soluções, argumentam os especialistas, não podem se dar de maneira autônoma, por apenas uma nação ou conjunto de países, desta ou daquela região do planeta. Os países mais pobres, e o Brasil partilha com eles isso, têm diante de si o desafio de melhorar suas políticas específicas para este segmento da população, apoiando a capacidade das crianças levarem vidas saudáveis. A má nutrição é um problema que aumentou exponencialmente. O relatório da OMS/Unicef /The Lancet lembra que o número de crianças e adolescentes obesos passou de 11 milhões, em 1975, para 124 milhões, em 2016. Alimentos ultraprocessados e com excesso de açúcar estão entre os vilões, com elevados custos individuais e sociais.

O desafio comum oportuniza as soluções encontradas em parceria, as trocas de experiências bem-sucedidas e a consequente reversão destes quadros. A convergência de esforços também é necessária por conta de problemas como o da poluição. As emissões de dióxido de carbono - desproporcionalmente maiores entre os países mais ricos - ameaçam o futuro de todas as crianças.

O panorama abrangente não traz notícias de um mundo distante. Os efeitos se fazem sentir aqui, como em outras partes do mundo. As soluções, dada a dimensão dos desafios, exigem integrações transnacionais; mas passam, necessariamente, por esforços em âmbito local. A responsabilidade para com os jovens deve ser partilhada por toda a sociedade.


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