Problemas demográficos

Embora o crescimento demográfico da Terra tenha sido menor do que o projetado há cinquenta anos, a população mundial deve atingir seu ponto de saturação em torno do ano 2050, quando será alcançado o índice de aproximadamente 10 bilhões de habitantes. Outro dado imprevisto no anterior planejamento demográfico global ocorreu quanto à urbanização, a qual se processou de maneira bem mais célere do que a cogitada, em grande parte, devido aos avanços no setor da mecanização agrícola.

Segundo estatísticas divulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), o índice de urbanização já ultrapassou o limiar dos 50%, com as cidades concentrando atualmente uma população maior do que a residente nas áreas rurais. O aspecto mais grave reside na constatação de que, na próxima década, metade dos habitantes das cidades viverá em estado de pobreza.

As conclusões chegadas pelas novas estatísticas são estarrecedoras. Prevê-se que, dentro de pouco mais de duas décadas, o mundo terá cerca de dois bilhões de favelados ocupando espaços urbanos, com o número de pobres e miseráveis maior do que o então residente nas áreas rurais. Grande parte do crescimento populacional se localizará nas megalópoles de países menos desenvolvidos, a exemplo da cidade de Mumbai, na Índia, que em menos de duas décadas abrigará uma população em torno de 35 milhões de habitantes.

Na opinião do urbanista norte-americano Mark Davis, cujos estudos sobre o tema foram sintetizados no livro "Planeta de Favelas: a involução urbana e o proletariado informal", o maior incremento demográfico se verificará em áreas urbanas de menor porte, exatamente aquelas mais incapazes de manter as mínimas condições para acomodar e oferecer serviços elementares a seus habitantes. Tamanho inchaço populacional torna-se ainda mais preocupante porque, de modo constante e progressivo, a urbanização intensiva deixou de se vincular ao ritmo industrial e a outros itens propulsores do desenvolvimento, tal como costumava acontecer com regularidade até a primeira metade do século XX.

Em vários países, a despeito da ocorrência de avanços na economia, a urbanização cresceu em proporção inversa à queda do salário real e à incidência do desemprego. O êxodo rural, por falta dos necessários incentivos à adequação do ser humano ao seu meio ambiente, também contribuiu, de maneira marcante, para a expansão das favelas, não só na periferia das cidades, mas, também, em áreas centrais e até mesmo em meio a zonas nobres.

De modo idêntico ao que sucede em outras metrópoles brasileiras, Fortaleza padece dos males e incômodos decorrentes da desordenada concentração demográfica, geradora de questões sérias como a proliferação da violência, do comércio e consumo de drogas, da prostituição ostensiva de ambos os sexos e do aceleramento do mercado informal, no qual geralmente predominam produtos de origem ilícita.

O problema assumiu tal dimensão, ao ponto de se tornar objeto de reiteradas advertências da ONU. Ignorá-las, ou subestimá-las, pode significar a desestruturação de inúmeros valores sociais, alguns deles já sustentados precariamente. Mesmo sob uma análise superficial, são percebidos os perigos ameaçadores do equilíbrio da sociedade, sem que quase nada de concreto e eficaz os governos tenham feito para repensar suas causas e lhes deter o avanço, limitando-se a medidas paliativas.