Porto da arte livre!


Os tempos são de incertezas e de tensões de todas as ordens: políticas, econômicas, culturais, estéticas. A artista Fernanda Young, que nos deixou tão prematuramente, definiu de “mau gosto existencial” o clima que envolve o Brasil contemporâneo. Em seus últimos escritos, a roteirista corajosa nos falou do império da cafonice que oprime o País: na vulgaridade das palavras, na deselegância pública, na ignorância por opção, na mentira como tática, no atraso das ideias. Num ambiente de perplexidade com a Amazônia em chamas, ela nos puxa para o âmbito da crise estética, talvez a mais grave de todas as crises atuais. A mirada certeira só poderia ser lançada por uma artista sensível que tão bem nos acostumou com narrativas inteligentemente ásperas sobre a mediocridade da vida nacional.

Neste ambiente, qual o papel de uma escola de artes, localizada no Ceará, região Nordeste, Brasil, em pleno ano da graça de 2019? Tento responder a esta pergunta ainda sob o forte impacto das boas notícias que o cinema cearense nos traz: oito Kikitos para “Pacarrete” (Allan Deberton) no Festival de Gramado e a indicação de “A vida invisível de Eurídice Gusmão” (Karim Aïnouz) para representar o Brasil no Oscar 2020. Os dois filmes falam sobre personagens femininas e a capacidade de resistência destas mulheres em ambientes de profundas opressões.

Talvez, a resposta para a pergunta acima venha daí. Resistência, uma escola como lugar de resistência, existência e potência estética, assim como nossos filmes! Neste País desafiador, o papel da Porto Iracema das Artes (no feminino) talvez seja o de garantir ambientes capazes de favorecer o pensamento crítico, o ato criativo, a convivência generosa, a cultura democrática. Um desafio de construção coletiva que ocupa a pauta da escola diariamente. É nosso supertrunfo para enfrentar os brutos, porque, definitivamente, eles não amam. E eles detestam arte!

Salve a arte livre!