Planejamento financeiro

A falta de orientações ou de lições sobre educação financeira nas escolas e no âmbito familiar desabilita o brasileiro para planejar suas contas e assegurar orçamento equilibrado no decorrer da vida, sobretudo, na velhice. Sem as noções básicas sobre juros, inflação, uso do cartão de crédito, opção de investimentos, entre outros instrumentos, grande parte da população jovem ingressa na fase adulta suscetível às armadilhas do consumo que podem resultar em problemas a longo prazo.

Com o crescimento no número de idosos e a maior expectativa de vida, é inaceitável que a compreensão acerca do uso correto do dinheiro não seja desenvolvida logo na adolescência. A Base Nacional Comum Curricular garantiu o primeiro passo para mudar esse panorama ao estabelecer, a partir deste ano, a inclusão da educação financeira no ensino fundamental. Na prática, no entanto, os municípios ainda têm discutido como inserir o conteúdo nas disciplinas de forma integrada. Levar o tema à sala de aula persiste como desafio.

Embora a perspectiva seja alcançar tal objetivo na maioria das escolas em 2019, existe considerável número de professores que carecem de treinamento até que estejam preparados para transmitir aos estudantes as melhores formas de controlar os gastos na juventude e como replicar esses métodos no futuro. Conforme levantamento da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF), apenas 8% das instituições de ensino no Nordeste já trabalham o tema.

No Ceará, mais de 90 escolas estão desenvolvendo um projeto de educação financeira, através de jogos de tabuleiro e cartas, lançado pelo Bank of America e realizado pelo Instituto Brasil Solidário. Os resultados são promissores até porque melhorou o desempenho dos alunos em matemática.

A formação deficiente da consciência financeira se torna notória a partir da observação de diversos comportamentos do consumidor. Um deles é a grande preferência pela poupança. Mesmo quando a modalidade não se apresenta como a alternativa mais vantajosa para se investir recursos e oferece pouquíssimas condições de fazer o dinheiro render, ela permanece entre as opções favoritas devido ao conforto oferecido. Ao escolher tal aplicação, o brasileiro geralmente quer fugir de outras que demandam acompanhamento mais incisivo da conjuntura econômica para se obter o retorno almejado.

Outro hábito que denota o descompromisso com o planejamento é a carente preparação para a aposentadoria. Os analistas indicam os planos privados, mas eles não encontraram ampla receptividade. O montante aplicado pelos investidores no Ceará durante o primeiro semestre nessa modalidade representou apenas 2,3% do total registrado no País. Conforme os dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida, foram aplicados R$ 51,42 bilhões no País.

De acordo com estudo da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), em agosto, somente 18% conseguiram poupar. Desse total, a previdência privada foi a quinta opção para a destinação de recursos. Foi citada por 7% do universo pesquisado. A poupança liderou as aplicações, com 64%. Guardar dinheiro em casa foi a segunda alternativa preferida, mencionada por 25%, seguida por conta corrente (15%) e fundos de investimentos (9%).

A instrução financeira não é tarefa exclusiva da escola. Cabe também aos pais transmitirem a experiência aos filhos, cuja regra de ouro é que não se deve gastar mais do que se ganha.