Ô terremotim besta

Vinte de novembro de 1980. Encontrava-me em Teresina, hospedado no Luxor Piauí Hotel. Findo o jantar, recolhi-me ao quarto e realizei anotações no relatório de viagem. Dia seguinte retornaria a Brasília, onde residia e trabalhava. Passava das 23 horas, quando me deitei e dormi. Acordei-me com a impressão de que a cama tremera. Aturdido, crendo em pesadelo, levantei-me, fui ao frigobar e servi-me de água. O telefone tilintou. Atendi. A recepção informava que o prédio balançou e a gerência pedia para os hóspedes descerem, devagar, pela escada, pois os elevadores, por segurança, foram desligados. Rapidamente vesti-me. Coloquei meus documentos e os do trabalho na pasta e dirigi-me à saída de emergência. Estava no quarto andar. Pessoas já transpunham a porta corta fogo. No piso abaixo, um senhor arrastava uma mala, parecendo pesada, e dificultava a passagem. Um padre, trajando clérigo-man, afobado, forçava passagem. Um dos afastados gritou: "Calma, homem, você já tem lugar reservado no céu!".

De pijama, com listras azuis e brancas, um idoso, fumando, descia amparado em um jovem. No térreo, sem explicações, havia a orientação de aguardar na praça em frente. Logo chegaram os bombeiros e afirmaram a ocorrência de terremoto. Pediram que todos se afastassem de postes e sentassem no chão, ante a possibilidade de novo abalo. Um bêbado, chamado Pium, repetia: "Ô terremotim besta! Desse jeito, o mundo não se acaba é nunca!". Pouco mais de uma hora, o prédio foi liberado. Na manhã, a notícia: "Quase meia-noite, terremoto de magnitude 5,2 na Escala Richter teve epicentro em Chorozinho, Ceará".

Geraldo Duarte - Advogado e administrador