O sucesso de “Caneta azul”

O sucesso da música “Caneta azul”, do maranhense Manuel Gomes, que teve milhões de visualizações no YouTube é indagadora. O refrão “Caneta azul/ Azul caneta/ Caneta azul/ Está marcada com a minha letra” ganhou o País. Aparentemente do nada, o vídeo surge em nossas mentes.

Atinge nossos corações? Provavelmente não, mas uma das principais fascinações do mundo em que vivemos é a efemeridade. Imagens e pessoas alcançam rápido êxito, que é logo esquecido. Assim, ações perdem o sentido, e a vida passa sem que existam memórias mais consolidadas.

Nesse aspecto, sorrir ou chorar parecem ser aspectos de uma mesma caminhada volátil. A letra “Todo dia eu viajo para o colégio/ Com uma caneta azul e uma caneta amarela/ Eu perdi minha caneta/ E peço, por favor, para quem encontrou me entrega ela” pouca densidade tem. E é isso mesmo. Mas a questão talvez esteja aí. Boa parte da nossa sociedade não está preocupada com essa densidade.

Apenas deseja viver. É impossível não lembrar da frase de Marx, “tudo que é sólido desmancha no ar”, utilizada pelo sociólogo Zygmunt Bauman, em obra que conceitua a “sociedade líquida”, caracterizada pela inconsistência de tudo perante diversos fatores associados à aceleração do cotidiano.

As diversas mídias transmitem em tempo real ações e reações da sociedade, a tecnologia permite diálogos cada vez mais ágeis, e as fronteiras globais se reduzem a cada instante. Diante disso, Bauman defende a metáfora de que a vida funciona como um líquido que assume a forma do recipiente que o abriga.

“Caneta azul” permanecerá em nossa mente por breve tempo. E, atualmente, não é necessário mais do que isso. É engraçada, ingênua e viralizou pelas redes sociais. E isso basta. Procurar estofo em sua letra ou em seu sucesso é a atitude do século XIX. As coisas hoje simplesmente acontecem. E precisa mais do que isso? Talvez não. É para se pensar...


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