O não-fim de uma era

Francisco Maria Cavalcanti de Oliveira morreu em São Paulo no dia 10 de julho e com ele, espera-se, não morreu uma época. O sociólogo e economista recifense tinha ligações com Fortaleza. Morou nesta Capital entre 1956 e 1957, quando trabalhou no Banco do Nordeste do Brasil. Entrou depois na recém-criada Sudene, ascendendo ao posto de número dois naquela organização, até que o golpe de 64 o levou a morar em São Paulo, onde foi professor universitário, participou de um centro de análise e planejamento e posteriormente ajudou a fundar dois partidos políticos. Até o fim manteve-se na crítica - sempre à esquerda, às vezes questionando a própria esquerda.

Em 1949, o economista argentino Raul Prebisch juntara um grupo de jovens em torno de uma organização e de uma ideia. A organização era a Comissão Econômica para a América Latina, a Cepal.

Já a ideia desafiava ortodoxias e interesses. O pensamento dominante era o das vantagens comparativas - em termos práticos para a América Latina, isso significava que deveríamos exportar café, cobre, trigo, e comprar carros e geladeiras.

O grupo da Cepal desafiava isso. Afirmava que sem indústria, a América Latina seria sempre atrasada. Para superar isso, era necessário infraestrutura, agências de desenvolvimento, políticas de crédito e proteção industrial. O braço direito de Prebisch era o paraibano Celso Furtado, que depois viria a ser o chefe de Chico de Oliveira na Sudene.

O BNDES, a Sudene, a Sudam, o Banco do Nordeste são frutos dessa ideia de que o desenvolvimento é possível, de que ele não ocorre por geração espontânea das forças invisíveis do mercado e que seu carro-chefe é a industrialização. Essa ideia perpassou governos democráticos e autoritários.

Chico de Oliveira era o último representante daquela geração. Espere-se que o seu sonho continue forte e firme.


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