O “miserê” do procurador

Só poderiam mesmo gerar indignação as palavras do procurador que, em reunião do Ministério Público de Minas Gerais, chamou seu salário – R$ 24 mil –, de “miserê”. A sessão extraordinária debatia o orçamento da instituição para o próximo ano e a queixa surgiu quando o procurador-geral de Justiça informou aos presentes que, caso o Governo mineiro assine acordo de recuperação fiscal com o Governo Federal, não será concedido qualquer reajuste salarial à categoria, ainda que aumentem os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal. A declaração de Leonardo Azeredo dos Santos, por conta da Lei de Transparência , chegou ao conhecimento público, originando óbvias manifestações de crítica e repúdio. Dois dias após, a Procuradoria-Geral de Justiça do Estado já recebera dez queixas, a serem apuradas pela Controladoria-Geral, órgão que examina irregularidades ou desvios de conduta de membros da instituição. As infelizes palavras do procurador levaram-no a pedir licença médica , diante da desventurada repercussão que atingiram.

No seu desabafo, Leonardo disse que está deixando de gastar R$ 20 mil em seu cartão de crédito para limitar-se “apenas” a R$ 8 mil mensais. Observou ainda que vive à base de antidepressivos, como outros colegas seus. Três dias depois do ocorrido, divulgou nota dizendo-se vítima “de execração pública, (…), ofensas e perseguições” e que em momento algum desejou tripudiar das agruras sofridas por milhões de brasileiros. De fato, estes trabalham, sem remédios, sem regalia nenhuma, para perceberem um salário mínimo de R$ 998,00 como retribuição. Com toda a dificuldade e muitos sacrifícios, ainda assim mantêm seus familiares dignamente. A nota de desculpas do procurador , por certo, não evitará mais o estrago irremediável já provocado. E, por conta de atitudes assim, convenço-me, cada vez mais, de que muitas coisas andam distorcidas neste nosso Brasil!