O legado de Regis Jucá

Há 15 anos, deixávamos partir um grande marco da Medicina do Ceará. Perdíamos precocemente um dos mais talentosos médicos, formado pela nossa faculdade de Medicina, onde durante muitos ano exerceu a arte de transmitir para os alunos, o que ministrava com invulgar tirocínio. Expandiu esta arte de ensinar para fora dos umbrais da Academia. Nunca deixou ser desapercebido que era médico. E o fazia não com empáfia presunçosa, mas como a dizer estou aqui para servir. Alargava os seus pensamentos muito além dos horizontes franzinos da ciência pura. Não cativava o heroísmo desmedido, inconsequente e, muitas vezes irresponsáveis. Lembro-me de um vaqueiro simples de Crateús, com Aorta Dissecada, quase rota. E a dor como uma ventania se apossou do seu peito magro. Foi desalojando vasos e artérias, derrubando costelas e músculos. Ainda vivo e como que uma bonança divina, a sua vida se acendeu. E foi bater à porta do grande cirurgião. O tratamento clínico lhe trouxe iluminadas esperanças de vida. Jucá apostava na clínica. De repente o Sr. Manoel Rodrigues estava de pé. Chegava a hora do cirurgião intervir. Fui avisar ao Regis. Fomos juntos lá na Casa Azul da São Raimundo. O paciente nos recebeu com um generoso sorriso. Crente que o cirurgião iria curá-lo. O cirurgião nem falava em dor. Nem em cirurgia. Começou a saber do paciente. Como estava o nação. Como ele vivia nos inclementes Sertões do Crateús. Com céu cinzento e morto. E com castigo das estiagens sem fim. Começou a falar da vida do sertão que Regis admirava tanto. A cirurgia do paciente era quase proibitiva. Riscos cirúrgicos elevados. Foi que o Sr. Manoel sentiu que o cirurgião queria saber da sua lida diária. Do feijão colhido, do arroz e do algodão. Quando Regis disse: "Sr. Manoel, você está de alta. Vá organizar sua vida e volte para sua cirurgia". Inteligente o paciente sentiu que não iria se operar. Foi para Crateús e continuou a sua luta diária com mais prudência. Depois voltei à sua fazenda, na minha cidade. E ele me falou que o melhor médico que ele encontrou na sua vida foi o Regis Jucá. Não pela cirurgia, mas pela palavra. O paciente viveria mais de 10 anos. A lição do respeito ao paciente. Por esta razão depois de 15 anos de sua morte, ele continua a fazer falta.


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