O jogo

O jogo causou a discórdia, e o mal-estar. Mas foi o jogo? Ou foram os jogadores? Ou ambos? O ânimo da disputa trouxe o dissenso. E por quê? O ser pensante está em constante atrito. Não há misantropia em sociedades modernas. E não existe amistosidade, nem quando é sábado, à noite. O jogo transcorria exatamente no sábado, e à noite.

Os participantes disputavam tresloucadamente. Qual a capital de Rabat? Eu sei! Mas nem de longe se sabia. Imagina-se apenas que era preciso saber. Seria a idade? Talvez. Será que sei mais conhecimentos gerais do que os outros? Não! Jamais! Sei algo, não sei outro algo. E assim é a vida.

Mas a disputa sempre existirá, até no sábado à noite, num jogo pretensioso. Isso porque já, muitas vezes, não se exercita a tolerância. Nem num sábado à noite. "Perdoemo-nos reciprocamente as nossas tolices, eis a primeira lei da natureza" (Voltaire). Até que alguém, de menos experiência, sai do jogo. Ou até que outra, de mais maturidade, apazigua a jogatina.

O ruim é que a vida é o próprio jogo. E o bom é que nesse jogo do mundo vivo há experientes e imaturos, porque desse misto se tiram lições e, sobretudo, saídas para as disputas. Não é bom sair do embate, porque sempre será oportuno o apaziguamento.

O pertinaz, então, é presença certa nas guerras, não para matar, mas para ter a certeza de que pode fazer melhor, para o menor destroço. E, se o perdão é a primeira lei da natureza, a segunda pode ser a paciência, para lidar com adversidades e, a terceira, a tolerância, para aceitar saídas e assertivas ponderadas. Afinal, o jogo segue, sempre, passada a catástrofe na Tailândia, a Copa na Rússia e a tragédia no Museu Nacional do Rio de Janeiro, infelizmente.

Adelivan Scolla - Jornalista