O galo famoso e o peru mudo

Há dias, um galo conquistou fama internacional. Fez-se celebridade nas mídias. Das redes sociais às destacadas emissoras de rádio e televisão, jornais e comentários públicos.

O galináceo francês, de nome Maurice, abraçado por sua dona, Corinne Fesseau, moradora da ilha Saint-Pierre D’Oléron, na França, posou com foto até em página do tradicional The New York Times.

Acusado na justiça local pelo vizinho e aposentado Jean-Louis Biron e alguns residentes, “devido cantar muito, bem alto e cedo demais”, foi processado e submetido, junto com a proprietária, a responder judicialmente.

Maurice tornou-se símbolo da resistência rural francesa. Petição de defesa registrou mais de 140 mil assinaturas. Mensagens de vários países chegaram ao tribunal julgador.
“O campo, igual à cidade, também tem seus sons característicos” – afirmaram os defendentes. “As vozes de animais, como vacas, cavalos, sapos e galinhas, dentre outros, fazem parte da vida campestre...”, registraram alegados.

Absolvido, Maurice poderá cocoricar o quanto quiser e na hora em que desejar. E os promoventes da ação foram multados em 1000€.

O fato lembrou-me o jardim do casarão do afortunado marchante do Frifort Zé Gomes, no bairro Demócrito Rocha, na década de cinquenta.

No gramado passeavam casal de pavão, seriema, marrecos e gansos. Do grande alpendre, Zé assobiava e, às vezes usava um apito, provocando sonidos continuados das aves. Parecia criança nesse brincar e adorava os cânticos. Não admitia dizer-se que pavão era uma espécie de peru.

Um compadre presenteou-o, ofertando gigante peru holandês. Treze quilos pesava o bicho. Pequena cabeça unida à longa e vermelha papada, naquela plumagem totalmente branca.

A felicidade do boiadeiro durou pouco. Depois de fortes assovios e silvos, o meleagris gallopavo demonstrou ser mudo. Nunca cantou. Diziam ter virado ceia de Natal.


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