O causo do vigário

Pedro e Catarina estavam casados há 12 anos. Formavam um casal exemplar. Cumpriam rigorosamente o que foi estabelecido, perante o vigário, no dia do casamento. Moravam numa cidade do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e possuíam dois filhos, Manuel e Teresa, respectivamente, com 10 e 6 anos. 

Pedro entrou na política, apesar das restrições de Catarina, pois tinha receio que a sortida mercearia que eles possuíam pudesse sofrer consequências desfavoráveis e passar a dar prejuízos, até mesmo fechar as portas. No entanto, não deu ouvidos à mulher e foi vereador e depois prefeito municipal. 

Os negócios, como previa a esposa, passaram a ser deficitários. Com isso, além dos graves problemas políticos, Pedro perdeu seu patrimônio. Começou a beber de forma exagerada e a frequentar “casas suspeitas”. Certo dia, ao retornar da boemia, Catarina percebeu uma mancha de batom na camisa de Pedro. Danou-se. Talvez tenha sido a primeira grande discussão entre o casal. 

Ela disse para ele que só acreditaria na sua versão se chamassem o bom vigário, amigo do casal, e Pedro recebesse a comunhão. Catarina era muito religiosa. Chegou o padre para dar a comunhão ao perplexo Pedro. Falou ao padre que não conseguiria vez que não queria cometer sacrilégio. O bom vigário, desejando que a paz voltasse ao lar, disse baixinho no ouvido de Pedro: “seu mentiroso e traidor, as hóstias não estão consagradas, mas amanhã bem cedo compareça à Matriz para se confessar e comungar com dignidade”. 

Catarina se conformou e Pedro atendeu, com vergonha e cabisbaixo, à determinação do pacificador e bom vigário. O casal passou a ter uma vida mais modesta, com poucos recursos, porém Pedro ficou longe da bebida e das farras. Ele concluiu que os prazeres humanos são passageiros e ilusórios. Assim é a vida. “Qualquer semelhança é mera coincidência”.


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