O adeus ao meu irmão

O apego do cearense ao chão natal, é algo de emocionante. Pode viver onde viver, morar onde morar, mas o cearense jamais esquece sua terrinha. O meu irmão Ernesto Diocleciano Oliveira Fontes não fugiu à regra. Embora casado e residente em Campina Grande, pediu para ser cremado e as cinzas trazidas para Fortaleza, a sua cidade-berço. Não se lembrou de Brasília, onde viveu, ainda solteiro, por longos anos, nem da própria Campina Grande, a quem amou. Quis vir para Fortaleza, transformado em pó, mas pó de gente.

Ernesto, para quem o conheceu, era o protótipo do cearense: franco, desabusado, valente, contador de “causos” e essencialmente honesto. Como diretor de compras do Senai, em Brasília, fez história, pois era incorruptível. Por isso, morreu pobre, resignado ao seu salário e ao da esposa, de aposentados. Não teve filhos, e por isso também se permitiu uma vida de viagens, só ou na companhia dela. De coração generoso, sempre estava voltado para as dores e o sofrimento do próximo, sendo capaz de se condoer e de derramar lágrimas diante do sofrimento alheio. Trazia consigo acendrado espírito de justiça e não buscava fama nem glória, embora fosse proprietário de alentada inteligência, inclusive para a poesia. 

Mesmo neurastênico, deixava sempre um lugar para uma piada ouvida em alguma parte ou para algum fato presenciado em suas andanças por esses brasis. Amava acima de tudo a liberdade pessoal, de ir e de vir, e nada lhe tolhia o passo ou o gênio rebelde. Era indomável, e por isso de difícil convivência, pois ninguém lhe dobrava a vontade. Boêmio ao seu modo solitário de ser, não largava o copo, e este excesso de extravagância apressou, sem dúvida, a sua passagem pelo mundo. Andou aqui por Fortaleza e fez sucesso no Clube do Bode, inclusive conheceu o humorista Falcão. 

Ernesto Diocleciano contava menos de 70 anos, e deixa saudades.


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