Novelas

Assumindo um lugar de destaque na sala dos brasileiros de forma especial, a nossa novela foi além da pura diversão. Isso é fato. Elas influenciavam, faziam as pessoas meditarem e, muitas vezes, ampliavam expectativas. Em algumas delas, encetavam campanhas, na tentativa de prestar serviços públicos. Outras despistavam tendências.

Houve até novela dentro da novela quando misturaram ficção com realidade, ou seja, crime nos bastidores da própria novela, mas isto é outro assunto, um ponto que, aliás, deve ter causado doloroso sofrimento aos envolvidos na trama.

Por muito tempo, então, não valia mais dizer: isso é só uma novela, pura bobagem ou ficção imaginada por seus criadores. A novela no Brasil é coisa séria.

Realmente, nunca fui adepto deste gênero, com exceção das boas adaptações, dos roteiros baseados em grandes romances, mas, na virada no século, quando estava à beira de uma estafa, escrevendo e pesquisando feito um doido, em face de meu mestrado, fui a um médico, porque não desligava, nem eu, nem meu velho computador e, certamente, constituía alguma síndrome que, graças a Deus, não teve nada a ver com ansiedade.

No fim da consulta, para minha surpresa, o profissional experiente me receitou uma boa novela, advertindo que eu não poderia seguir meu cotidiano duro de trabalho na Justiça, leitura e produção de textos, sem uns momentos de distensões, e a narrativa em vídeo, claro, tinha esses poder, pois, segundo ele, produzia efeito semelhante ao da nicotina. Disse até que para outras pessoas com sintomas diferentes, mas com dificuldade de relaxar, também a novela era um excelente ansiolítico.

Será mesmo? Continuo sendo cético, quanto ao gênero, aliás, uma posição isolada na minha família. Para mim, será sempre folhetim.

Contudo, não posso ignorar a força que esses modelos têm. Ou pelos menos tinham antes dos novos seriados americanos e nacionais, das tevês fechadas. Como disse, certa vez, Ricardo Linhares, autor de vários sucessos na telinha: "as novelas refletem o momento em que estamos vivendo. São espelhos da sociedade. Não impõem mudanças de comportamento. Mas os autores que são progressistas podem abordar movimentos e transformações que já estão embrionários".

O problema e a grande questão na atualidade é que o formato das antigas novelas da televisão estão perdendo força. Não digo seu desaparecimento, mas mudança de formato, porque, necessariamente, tudo muda e rapidamente tudo se transforma.

Durval Aires Filho

Desembargador do Tribunal de Justiça do Ceará


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