Como nos conectamos às narrativas de um reality show?

Entre o verdadeiro e o montado pelo roteiro, os realities ainda são forma de entretenimento capaz de unir um público

Legenda: Como em todo reality, Queer Eye usa a dualidade entre o que é real e o que é conveniente para o andamento de um episódio
Foto: Foto: reprodução

Na última semana procurei séries no modelo "reality show" para acompanhar. O único produto televisivo que consumo nesse formato com frequência é o "Big Brother Brasil", então a intenção era acompanhar algo leve, descompromissado. No fim das contas, acabei refletindo sobre encontrar, dentro dos realities, narrativas tidas como verdadeiras, quando, na verdade, elas representam apenas pedaços de uma realidade percebidas em meio a um roteiro. 

Depois de muito zapear os aplicativos de streaming, dei uma chance a "Queer Eye". Nos episódios, cinco homens gays - incríveis e talentosos, diga-se de passagem - transformam a vida de homens e mulheres. O Fab Five, como se intitulam os comandantes do programa, é composto por Antoni Porowski, especialista em comida e vinho; Tan France, especialista em moda; Karamo Brown, expert em cultura; Bobby Berk, do design; e Jonathan Van Ness, especialista em cuidados pessoais. Engraçados e carismáticos na medida certa, eles ganham o espectador criando afeição à narrativa.

Mas além de ver as histórias, o melhor de tudo é perceber como os programas baseados no que é real ainda assim constroem histórias montadas e as oferecem ao público. Tudo é direcionado, ainda que não seja uma grande mentira. Desde as falas do personagem a ser transformado até as expectativas jogadas em tela. Nem é necessária uma reflexão tão grande para perceber esse detalhe, afinal de contas já somos acostumados e também nos apegamos esse tipo de produto televisivo. Mesmo assim, acabamos "comprando" as histórias e nos afeiçoando a ela. E, claro, não há absolutamente nada de errado nisso.

Legenda: Diversos momentos da série se apoiam nas emoções do personagens, que se destacam apesar da narrativa em comum entre todas as histórias
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A nova temporada de Queer Eye, inclusive, foi lançada pela Netflix na última sexta-feira (1) e tem muito dessa essência. Dessa vez em passagem pelo Japão, os cinco fabulosos continuam com a energia anterior, ainda mais integrados e capazes de despertar emoções no espectador por meio da sensação de intimidade que criaram nos últimos anos.  

No fim das contas, são as histórias que importam, sendo possível até mesmo uma certa conexão com os tais pedaços verdadeiros desses personagens. E será que não é isso mesmo que buscamos de fato em um reality show? Sem um panorama completo, nos ligamos ao que escolhemos como "real" e acabamos felizes com isso, afinal de contas, nada como uma boa forma de entretenimento.



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