Multiplicar o tratamento

Quando uma epidemia de Aids atingiu recorde de óbitos e vítimas da doença na década de 1980, intensificaram-se as ações para conter o surto e foram estipuladas metas, a fim de eliminar definitivamente a moléstia da lista de gargalos na área da saúde mundial. No decorrer desse período, sucessivas campanhas de conscientização derrubaram mitos que impediam maior efetividade no seu enfrentamento, enquanto a modernização da Medicina permitiu diagnósticos rápidos e evoluções no tratamento.

Apesar de tais esforços, a Aids continua a ameaçar parcela expressiva da população global. Conforme estudo recente do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), o número de mortes relacionadas à síndrome foi reduzido, mas continua distante dos objetivos estabelecidos para 2020. Até lá, planeja-se que, pelo menos, 90% das pessoas diagnosticadas com HIV sejam submetidas a tratamento. No ano passado, a abrangência era de 79%.

As dificuldades em elevar esse percentual estão no retrocesso verificado em aproximadamente 50 países nos indicadores referentes à doença, embora a Organização das Nações Unidas calcule que, no ano passado, foram investidos cerca de 20 bilhões de euros em programas contra a Aids nas nações pobres.

O surgimento de casos nas regiões do Leste Europeu e da Ásia Central tem dobrado a cada ano. As infecções também têm crescido em mais de um quarto nas últimas duas décadas no Oriente Médio e Norte da África. O Brasil não está nesta relação, mas ainda se depara com obstáculos a superar no combate à Aids. Em 2017, das 731 mil pessoas que descobriram ser portadoras do HIV, 548 mil, ou 75%, estavam em tratamento.

Além das campanhas de mobilização, o governo brasileiro aposta em outras estratégias desenvolvidas pelo Sistema Único de Saúde para estender essa proteção, pois sua rede de hospitais oferece tratamento completo e gratuito a quem tem Aids. Mantém a distribuição de medicamentos e dispõe de laboratórios em que a população pode realizar exames de carga viral do HIV. No ano passado, o Ministério da Saúde informou ter investido aproximadamente R$ 1,1 bilhão.

Ainda existem, no entanto, barreiras comportamentais que afastam, em especial, o público masculino, dos serviços de saúde. Grande parte desse grupo, mesmo quando assume comportamento de risco, negligencia a busca por serviços de prevenção e testes para o HIV, ou não procura o atendimento com profissionais especializados para enfrentar a enfermidade, ao contrário do maior cuidado que mostram as mulheres. Na maioria dos casos, aquele comportamento masculino é ditado em razão do preconceito desencadeado pela insuficiência de informações, o que se nota, principalmente, nos jovens entre 18 e 24 anos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, apenas 56% dos diagnosticados dentro desse grupo estão em tratamento.

Outro desafio é diminuir a alta frequência de pessoas que desistem do tratamento. Em 2016, no Brasil, 9% dos pacientes que iniciaram o acompanhamento médico naquele ano preferiram abandoná-lo. Em geral, os estigmas que carregam as vítimas de Aids resultam num desânimo que pode ser letal.

É preciso injetar otimismo e transmitir esperança a quem trava a árdua luta contra o HIV através da divulgação de informações gerais sobre a doença, para que a sociedade compreenda todas as peculiaridades da grave moléstia e não estimule práticas preconceituosas contra quem convive com a enfermidade.