Mortos saudáveis

Crato. Bairro Lameiro. Delegacia de Polícia. Primeiras décadas do século passado. Coronel Pedro Marques Peixoto de Alencar, irmão do Padre Joaquim de Alencar Peixoto e parente do também coronel Nelson da Franca Alencar - seu protetor político - exercia, rigorosamente, o cargo de delegado. Homem desassombrado, temido e exímio atirador, sua palavra era lei e, assim, muito respeitado pela população. Certa feita, ao perseguir um ladrão em fuga, que desrespeitou ordens de parar, atirou cinco vezes contra o mesmo. A cada estampido, ouviu do meliante: "Errou veio fio duma égua!".

Depois do último disparo, fez-se total silêncio. Estendido na rua encontrava-se um cadáver atingido por cinco perfurações de balas. Quando a peste de cólera tornou-se epidemia na terra do Padre Cícero, as mais rígidas cautelas de proteção à saúde foram adotadas. As preocupações eram totais ante a elevada mortandade que se registrava. Dentre essas medidas preventivas, uma determinava o sepultamento das vítimas distante da cidade. Logo tomou conhecimento, o coronel Peixoto foi terminantemente contrário.

E para demonstrar que tal providência fazia-se descabida, adotou atitude deveras radical. Construiu morada no cemitério, passando a viver ali. Plantou horta no interior do campo-santo, dela colhendo sua alimentação durante o período colérico. Questionado sobre a decisão tomada, dizia: "Quem já viu defunto fazer mal a alguém?" e complementava: "Na hora em que a pessoa morre, com ela morrem todos os micróbios!". A fama de intransigente na defesa de suas afirmativas, até hoje, o colocam protagonista de vários causos.

Geraldo Duarte
Advogado e administrador