Moldando o futuro

Mais do que nunca, a esperança vence a monotonia dos dias. Que seja esse sentimento, iluminado pela razão, a companhia de cada um de nós diante das incertezas e também das oportunidades de mudança

Faz parte da vida ter diante de si a incerteza. No corre-corre dos dias, nem sempre nos damos conta de que é dessa matéria que se faz o cotidiano. Enumere as surpresas do dia anterior, os desvios de rota, bons e maus, aqueles que lhe tomaram tempo, e os que se revelaram atalhos úteis. Pronto, agora você tem um exemplo real de sua convivência diária com o desconhecido.

O dia de hoje traz a promessa de uma incerteza ainda maior, a se somar com as pequenas que ora nos interrompem, ora nos ajudam a avançar. Não se trata de uma variável que diz respeito apenas a nós mesmos ou a um pequeno grupo de pessoas a nós ligado. "Como este domingo terminará para o Brasil?". A dúvida nos toma, desde as primeiras horas do dia, e certamente passou pela cabeça do leitor antes mesmo de ele correr os olhos sobre essas linhas.

É dia de eleição, tão esperada e comentada que, por vezes, até parecia não ter pressa alguma em chegar. Nessas horas, aumenta a nossa ansiedade, em parte, por conta do espírito passional de nossos concidadãos que deixa tudo à flor da pele e fez crescer a nossa fama de povo caloroso, festivo e alegre. Também se explica pelo desejo coletivo de fazer valer o que insistentemente se diz do Brasil - que ele é o País do futuro.

Somos 147,3 milhões de eleitores, cada um com um destino distinto a ser traçado, rumando para o palco reservado, a cada um de nós, para sua atuação democrática.

À nossa espera, das oito da manhã às cinco da tarde, um sem número de espaços públicos que ganharam uma nova função. Transformados em seções eleitorais, aguardam a passagem de tanta gente diferente uma da outra, que até ali se dirigiu para, num ato breve, de uns poucos segundos, dar sua contribuição para a história do País.

À noite, com a contagem de votos, aumentará as expectativas, elevará as tensões e concentrará as atenções. Tudo se resolverá hoje ou protelaremos a escolha, mais certos das opções, para uma nova data. Mas, apesar da disputa, não vale aqui a metáfora do esporte, dos lados opostos em campo, em um busca de uma vitória, que só pode ser de um deles. E é aí que a história poderá ser contada por uma outra perspectiva.

O eleitor não é um mero torcedor, que deseja a glória para si e para os seus. Primeiro, porque tem participação ativa: é ele próprio, um jogador. Segundo, porque, em princípio, vota-se naquela proposta que julgamos melhor para todos - e isso, claro, inclui os adversários.

O Brasil se move, busca recuperar-se da letargia dos ares ruins. São tempos de crise, que abalam os ânimos. Mas acaso não atravessamos outras? Ser o "País do Futuro" também não pareceu, tantas vezes, uma maldição, como se tempos melhores estivessem sempre anos ou décadas adiante? Já provamos nossa capacidade de superação, de reinvenção, de fazer projetar o futuro que sonhamos no presente que vivemos.

O tempo é de esperança. De tomar impulso e de projetar o salto. Requer disposição, de refazer o que não ficou bem feito e de aperfeiçoar o que já nos é útil; e temperança, para pensar formas de superar os velhos impasses e de evitar os novos, que se avizinham. "A esperança vence a monotonia dos dias", escreveu Chesterton - e não há pior monotonia do que a dos dias ruins.

O pensador Ralph Waldo Emerson dizia que se julga a sabedoria de um homem por sua esperança. Que seja essa esperança, iluminada pela razão, a companhia de cada um de nós diante da incerteza. E que possamos convertê-la em oportunidade de mudança.


Assuntos Relacionados