Mês interminável

Ouvi de um popular a expressão: o mês de agosto só termina em dezembro. A frase me impressionou e me pareceu proferida pela boca de um profeta. No caso a pessoa se referia à extensão do mês, com seus 31 dias bem espichados. Mas para mim a afirmação soou como um mantra, pois “a voz do povo é a voz de Deus”. 

Entramos em setembro, trazendo todos os desafios e problemas do mês findante, o tradicional agosto de tantas crises políticas e institucionais, como o suicídio de Getúlio e a renúncia de Jânio Quadros, o homem da vassoura e triste figura quixotesca. Agora não é diferente. Agosto continua com a sua pauta insolúvel, com seus graves problemas de ordem-desordem institucional, quando os poderes se digladiam e um avejão parece pairar sobre o céu brasileiro. 

E ainda mais quando o dia se faz noite, como ocorreu às três horas da tarde em São Paulo, a lembrar a hora das trevas de quando Jesus expirou no alto do Calvário. Até a água caída do céu naquela tarde-noite era escura como carvão e impregnada dos gases venenosos da Mata Amazônica em chamas. Triste sinal dos tempos, prenunciadores de maus augúrios. E assim, em pleno setembro, agosto invade o calendário, como se fosse um rio transbordante do seu leito, a gritar a plenos pulmões: aqui estou eu, senhores! E aguardo as soluções para os graves problemas sociais e políticos da pauta não resolvida. Prometo ir além, se for o caso. 

Avançar sobre outubro, novembro, dezembro e, se preciso, adentrar janeiro de 2020. Comigo ninguém pode. Eu sou o mês do desgosto, o mês das graves crises nacionais. Tende cuidado com as expressões: “agosto é passado, e tudo se resolverá a contento.” Na verdade, pouco ou nada se resolveu, mas muito se acresceu à crise já instalada. Cuidai, senhores, pois eu ainda existo e persisto. É preciso buscar o consenso, não o dissenso, a paz e não o confronto.


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