Juízes em Berlim

A coragem e a tenacidade demonstradas pelos proprietários do terreno grilado institucionalmente por uma lei sabida e declaradamente inconstitucional, a Arie do Cocó, que ao longo de dez anos enfrentaram o oportunismo de políticos que fazem das causas ambientais o seu capital eleitoral, além do arbítrio de autoridades administrativas totalmente descompromissadas com o desenvolvimento do Estado, lembra-nos de um episódio ocorrido alhures.

Frederico II, rei da Prússia, resolveu construir para si um belo palácio, numa paisagem tranquila. Ocorre que nestas redondezas havia um moinho antiquíssimo que atrapalhava a visão do monarca e impedia a realização de seus planos. Decidiu então o rei que removeria o moinho a qualquer custo: ofereceu riquezas, tentou negociar ,ameaçou e o moleiro, dono do moinho, continuou a se opor aguerridamente à expropriação de seu patrimônio.

Frederico II, após saber da oposição do impertinente, fez chamá-lo a sua presença e questionou-lhe os motivos que lhe faziam manter a ideia de continuar com o moinho erguido. O moleiro, em sua humildade, contou que o pai do seu pai, o seu pai e ele haviam trabalhado durante toda a vida naquele moinho e que seu filho também trabalharia quando mais velho. 

Irritado, Frederico II diz ao moleiro: “Sabes que, se eu assim o ordenasse, ainda que contra sua vontade, poderia expropriar-te da terra sem lhe dar um único centavo, não sabes?” e o moleiro redarguiu: “O senhor? Tomar-me o moinho? Ainda existem juízes em Berlim!”.

De fato parece que, apesar de poucos, eles ainda existem ,e por decisão de um deles ,o ministro do STF, Édson Fachin, foi homologado em última instância o TAC que autoriza a concessão das licenças pelo Município de Fortaleza para que os proprietários possam dispor daquilo que é seu por direito.


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