José Macêdo. 1919-2018

Até na idade foi maior. Filho de uma família modesta do Interior, transformou a história econômica do Ceará. Nos primeiros passos do trabalho, numa firma de um cunhado, trabalhou com representações (tipo de negócios muito em voga à época) e aprendeu, rápido, o tamanho do Brasil e do mundo. Poderia alcançar qualquer um dos dois.

Cedo decidiu voar solo. Com visão e vontade de crescer, vislumbrou, com a ajuda e conhecimento de um irmão que morava nos EUA, importar veículos no pós-guerra, de um país rico e vencedor para um outro que tentava os primeiros movimentos para o desenvolvimento.

Coragem, somada à vontade indomada de ganhar dinheiro, ousou trazer jipes Willys Overland para o longínquo Ceará e, aqui, desbravar costumes, terras e futuro. Junto a dois irmãos, Benedito e Fernando, estava iniciada uma saga que atravessaria anos de crescimento e grandeza,

O primeiro milhão de dólares não o transformou em rico. Apenas fez nascer um empresário lúcido, visionário e vinculado a um projeto de investimento que antevia empregos, oportunidades e desafios.

A atividade de moagem de trigo demonstrou uma característica de dinamismo impressionante. A propriedade de um moinho de grande capacidade no Ceará, o que lhe garantiria fortuna pelo resto da vida, não o manteve inerte. Pelo contrário: em poucos anos, já era o segundo maior grupo moageiro do País. Durante este crescimento vertiginoso liderou, com sabedoria extrema, a convivência entre irmãos. Sócios ou não. Generoso com todos, firme e intransigente quando necessário.

Na década de 60 sucumbiu aos falsos e fáceis incentivos da Sudene e partiu para cometer o único erro de sua vida empresarial: uma fábrica de pneus, no interior da Bahia. O investimento não resistiu à falta de expertise e ao poderio das concorrentes. Depois de 100 milhões perdidos, livrou-se da aventura. Nunca esqueceu este fracasso.

Fui seu amigo desde 1963, quando voltei de um curso nos EUA. Em 1972, fui trabalhar com ele. Fiquei por 15 anos. Conversávamos diariamente. Mil histórias para contar. Só em livro. Aprendi muito. Certa vez, comemorando um bom negócio, propus: "vamos pra Paris, descansar". Ele respondeu: "vá você, por minha conta". Vou para o Canhotinho. Ir ao Cine São Luiz com a Dona Maria, de mãos dadas, era seu prazer inesquecível.

Filho, irmão, marido, avô, bisavô, tataravô, amigo, empresário, cearense. Em tudo foi grande.


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