Irreverente Tio Pio

Irreverente, boêmio, poeta satírico, chistoso, tropeiro, delegado, merceeiro, tabaquista, bebedor de tragos e causoeiro. Assim viveu Pio Carvalho Brito, tio-avô do coronel da PM, professor da Uece e escritor Ronald Brito. Em livreto dedicado ao ancestral, narra suas peripécias de viagens por nossa terra e paragens outras. Sendo homem da lei, nunca prendeu ninguém. Na bodega sempre lotada, não de fregueses, mas de desocupados, citava feitos.

Perto de quem come e longe de quem labora, parecia-lhe lema. Carvalhinho, seu genitor, admoestou-o no sentido de trabalhar, recebendo resposta que se tornou realidade: "Deixe estar, meu pai! Eu vou-me casar para não precisar trabalhar". Casou-se com moça rica e prendada. Abriu farmácia em Bodocó, onde além de vender, preparava fórmulas.

Um senhor se queixou de sentir um "bolo no estambo". Pio desconfiou ser gases e preparou um "xarope espumante": limonada e bicarbonato de sódio. Entregou a manipulação, usando a denominação popular de flato e garantiu: "que ele sai ou tora pelo meio!".

Vindo do sítio, descavalgou num boteco da vila, objetivando "queimar o dente" e deu-se a contar causos. Passou da medida e, na hora de montar, risada geral. "Meu tio, está montando ao contrário!" - disse alguém e logo ouviu: "Por isso, eu estava achando este diabo enfreado!".

Em andanças no Sudeste, assistiu aos desentendimentos políticos entre estados. Ao retornar, perguntado pela situação lá, respostou: "Uma 'greve' de santo danada. São Paulo se revoltou contra Santa Catarina e para resolver a 'coisa' foi preciso a intervenção do Espírito Santo!".

Geraldo Duarte
Advogado e administrador