Intolerância com o idoso

Embora o Estatuto do Idoso vigente no Brasil seja considerado uma das mais perfeitas peças no seu gênero, constantes desrespeitos e discriminações aos idosos continuam ocorrendo na prática, em meio às mais diversas circunstâncias.

O preconceito latente se revela desde a recusa de motoristas de ônibus a conceder-lhes o assegurado transporte coletivo gratuito, até a má vontade de alguns funcionários públicos e prestadores de serviços no sentido de lhes oferecer esclarecimentos elementares.

Fingem ignorar o fato óbvio de que a maioria dos idosos tem problemas de visão, audição e locomoção, merecendo, por conseguinte, um tratamento especial condizente com os mais comezinhos princípios de solidariedade humana.

Nas agências bancárias, só para citar um exemplo, deveria ser promovido treinamento para os funcionários de caixas preferenciais, vários deles notoriamente despreparados para o atendimento às pessoas da terceira idade e aos portadores de necessidades especiais.

No setor das pendências jurídicas, nas quais os mais velhos reivindicam seus legítimos direitos, apesar do caráter prioritário que lhes é atribuído no Estatuto do Idoso, são incontáveis os casos em que os autores terminam seus dias, após infindáveis anos de luta gastos em dificultosos trâmites judiciários, sem chegar a usufruir o cabível reconhecimento às suas justas pretensões.

Também são poucas as opções de lazer destinadas à chamada terceira idade. Certos guetos pretensamente diversionais às vezes descambam para uma caricatura paternalista que beira o ridículo. Não raramente, pessoas de idade avançada são constrangidas a exibir seus documentos de identidade em teatros e cinemas, como se fossem burladores em potencial, quando solicitam a meia-entrada que lhes é assegurada nos espetáculos de caráter comercial, conforme determinação expressa do Estatuto.

A preponderância da valorização dos mais jovens reflete-se na evidência de as metrópoles brasileiras serem cidades voltadas quase que exclusivamente para os interesses e possibilidades da juventude, sobretudo na inadequação de acesso à maioria de seus parques, praças, avenidas e, também, aos estabelecimentos privados especificamente dedicados ao lazer. Um aperfeiçoamento no setor teria o mérito adicional de incrementar os pacotes turísticos destinados ao idoso, gênero de turista que mais investe em viagens durante o decorrer do ano, mas que, geralmente, não é alvo do tratamento de que se faz merecedor.

O envelhecimento populacional fez com que fossem lançados programas para valorização dos idosos, que conseguiram ser aprovados em vestibulares, ocuparam centros de convivência e realizam cursos de alfabetização, de dança, teatro, artes plásticas, informática, promovendo sua inclusão social e resgatando sua autoestima.

Mesmo assim, a realidade local contrasta com a sabedoria dos povos orientais e os princípios legados ao Ocidente pela Antiguidade Clássica, que destacavam os anciãos, considerados como seres privilegiados pela experiência acumulada na vida, bem como pelo armazenamento de conhecimentos ao longo da existência.

O oposto desse conceito parece vigorar no Brasil, onde os idosos sempre estiveram longe de receber os devidos cuidados por parte dos poderes públicos, da mesma forma que da população mais jovem e, de modo lamentável, por vezes, entre os membros de suas próprias famílias.