Inflação desacelera

As estatísticas inflacionárias de julho mostram que o acentuado aumento nos preços, derivado da greve dos caminhoneiros, deu lugar a um índice que se situa dentro da zona de normalidade. Nota-se que a maior parte do estrago provocado pelo movimento grevista ficou concentrada em maio e junho, embora, convém enfatizar, nem todos os efeitos nocivos da paralisação foram expelidos.

De acordo com o IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou o mês passado em 0,33%, desacelerando de modo considerável no comparativo com a taxa de 1,26% de junho, a qual havia sido a mais elevada para o mês desde 1995.

No acumulado do ano, a inflação oficial está em 2,94%; e na soma dos últimos 12 meses, em 4,48%, muito próximo da meta do Banco Central de 4,5% - razão pela qual o Comitê de Política Monetária (Copom) não deverá efetuar novo corte na Selic, na próxima reunião, em setembro. Embora a proximidade com o centro da meta indique que a situação inflacionária não é das mais cômodas, também não se pode considerar que ela seja preocupante.

Em julho, a maior colaboração para a alta do IPCA veio da tarifa de energia elétrica, cujo aumento médio foi de 5,33%. A conta está mais cara em decorrência da vigência da bandeira tarifária vermelha no patamar 2, a mais dispendiosa de todas, adotada por conta dos baixos volumes verificados nos reservatórios das hidrelétricas. De janeiro a julho, a energia elétrica acumula encarecimento de 13,78%.

No horizonte, há ainda o montante de R$ 1,4 bilhão a ser arcado pelos consumidores para cobrir o déficit no setor elétrico. A despesa adicional, usada para abastecer o fundo do setor, vai ser repassada na tarifa de todos os usuários, devendo municiar ainda mais a inflação.

Esse fundo serve para financiar subsídio à conta de luz de famílias de baixo poder aquisitivo; custos de indenizações a empresas; compra do combustível utilizado por algumas termelétricas, entre outras iniciativas.

Outro estímulo para a alta de preços é a tabela do frete rodoviário, que vai influenciar gravemente em valores de variada gama de produtos. O descabido tabelamento é alvo de críticas por todo o setor produtivo, configurando obstáculo a produtores e consumidores.

Pesam também itens pertencentes ao grupo transporte, em especial as passagens aéreas, que ficaram 44,5% mais caras. Aliás, este setor prometia entregar preços mais acessíveis após a mudança nas regras de cobrança por bagagem despachada, mas não é o que se tem observado na prática. Órgãos de defesa do consumidor vêm alertando que as novas normas criaram um cenário pior para os clientes, e o Tribunal de Contas da União (TCU) abriu uma auditoria para investigar as repercussões da cobrança.

Em contrapartida, o grupo de alimentos e bebidas aliviou o bolso das famílias. Houve deflação de 0,12%, o que é bastante significativo para o resultado global do IPCA, pois se trata da categoria mais relevante. No mês anterior, a alimentação ficara 2,03% mais cara, o maior percentual em 30 meses. O arrefecimento desse grupo permite que a inflação oficial volte ao patamar razoável. Vestuário (-0,6%) e educação (-0,08%) também deflacionaram em julho.

Com a exceção das ondulações mais intensas na tarifa de energia, a inflação retorna ao trajeto esperado. O comportamento dos preços reflete a morosidade da economia, a ressaltada taxa de desemprego e a conduta retraída do consumidor.