(In)certezas

Lamento decepcionar os apologistas do novo e das rupturas, mas o que foi firme no passado irá atingir-nos sempre. A civilização greco-romana dominou o mundo ao redor dos mares Mediterrâneo e Negro, durante séculos, com uma convivência por vezes harmoniosa, mas tensa em sua essência. Ecos dessa influência são sentidos em todos os países ainda hoje. A alma prática romana convivia no mundo das certezas. Não por acaso que se tornaram mestres nas áreas militar e jurídica de seu tempo. A alma grega, apesar de dividida, pendia para a ousadia de questionar o estabelecido, de especular sobre o que estava posto. Nada mais atual do que esse conflito. As democracias modernas são chamadas a se posicionar para decidirem qual lado o pêndulo irá. Não sendo assim, teríamos mundos horrendos. O mundo da certeza extrema seria engessado, arrogante, tímido, seguro, mas obscurantista. Por seu turno, o mundo da especulação extrema seria, fluido, ousado, mas extremamente inseguro. A sociedade não precisa incorporar os extremos de um ou outro. Tornar-se-ia uma sociedade de chatos se desse a vitória definitiva aos que supõem possuir a certeza das coisas, ou uma sociedade de porras-loucas com experimentalismos inconsequentes, caso dessa vitória definitiva aos que supõem a especulação como valor absoluto. As instituições atuais, felizmente, possuem sistemas de pesos e contrapesos para evitar que decisões como a de Justiniano (483-565 dC), que determinou o fechamento das escolas gregas do império romano, no ímpeto de aniquilar algo que seria contrário à sua visão de mundo; o convívio civilizado das ideias se impõe.

Ricardo Augusto Dourado
Pós-graduado em Administração