Imprensa e os governos disruptivos

 

Segundo lideranças da política de sempre, a eleição de Bolsonaro só se explica pela presença de um forte sentimento antipetista. A interpretação é verdadeira. Mas só em parte. Jair Bolsonaro soube captar o pulsar profundo da sociedade e foi ao encontro de um sentimento latente na alma nacional. Isso explica boa parte do seu desempenho. Bolsonaro passou como um tanque e arrasou o antigo mapa do poder: grandes partidos encolheram, velhos caciques foram pulverizados, antigas fontes desapareceram e a esquerda está literalmente no córner.

As redes sociais tiveram papel decisivo. Bolsonaro falou diretamente com o eleitorado. Rompeu, como nunca antes se tinha visto, a intermediação das empresas de comunicação. Agora, sentado na cadeira presidencial, continua na mesma toada. A perplexidade é grande. Alguns vislumbram nas idas e vindas do presidente da República, nas suas declarações polêmicas e provocativas, no seu modo aparentemente atordoado de dialogar com o Congresso, uma evidência de seu despreparo. No entanto, Bolsonaro está nas manchetes, nas páginas de política e nas discussões midiáticas. É estrela. Criticado ou apoiado. Todos os dias. Isso é ruim ou bom para o seu governo? É incompetência ou é jogada ensaiada?

Será que tudo isso, aparentemente desconexo e incompreensível, faz parte de um jogo estudado, manifestação de uma estratégia pensada e implementada? O que parece bagunça e impulsividade, algo que incomoda e irrita, não estará no cerne de um novo estilo de fazer política? É cedo para chegar a uma conclusão. Mas é preciso refletir.

Não estaremos, amigo leitor, diante de um governo que acredita na polêmica e no confronto como forma de superação de situações cristalizadas pela força da ideologia? Não sei. Estou, a cada dia que passa, evitando pendurar etiquetas simplistas numa realidade que parece complexa.

É preciso ponderar e refletir, que são a proposta deste artigo.