Impacto social da droga

O tráfico de drogas é uma das principais causas do encarceramento no Brasil. Por isso, não é rara a associação entre violência e entorpecentes surgir como motivadora da insegurança urbana. Entretanto, a questão é mais complexa e precisa ser aprofundada, especialmente no que diz respeito à motivação do crime e às razões que levam ao agravamento da situação. As circunstâncias em que os delitos e o consumo acontecem nem sempre são analisadas amplamente.

Segundo dados do Ministério da Justiça, o Brasil é campeão mundial em números absolutos de homicídios. Por ano, são registradas 56 mil mortes violentas, estimando-se que 50% estão relacionadas às drogas. O País também é destaque no que se refere ao encarceramento: 30% das prisões são associadas aos entorpecentes, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Os índices representam uma realidade que está especializando-se e interiorizando-se no País. Isso porque o aumento no consumo das substâncias indica que a prevenção, o tratamento e mesmo a repressão são processos que precisam ser repensados e trabalhados unilateralmente. Cada vez mais existe a necessidade de as iniciativas serem baseadas em ações públicas de saúde, segurança e ação social articuladas, uníssonas, que respeitem as características regionais.

A penetração das drogas na sociedade não se restringe ao impacto na violência. Especialistas defendem que o tema é uma questão de saúde pública e deve ser percebido sob a ótica do atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), da proteção social às famílias e da necessidade de os usuários serem tratados, prioritariamente, como pacientes e de maneira multidisciplinar.

No Ceará, neste primeiro semestre, 1,5 tonelada de entorpecentes foi apreendida pela Polícia Federal, entre maconha e cocaína. O montante aproxima-se do que foi apreendido durante todo o ano de 2014, quando o volume somou 1,9 tonelada. O diferencial é que, neste ano, a apreensão ganhou requintes nunca vistos anteriormente no Ceará, como a interceptação de aviões que faziam a rota do tráfico internacional. Somente em aeronaves, o total de 800 quilos de drogas foi apreendido no Interior, sendo um em Canindé e outro em Pedra Branca. Próximo à divisa com o Ceará, foi interceptado o terceiro avião com droga enviada para o Piauí. Para a Polícia, há uma razão simples, mas preocupante, na especialização do crime e intensificação das operações: o consumo está maior. Segundo o Observatório do Crack, organização vinculada à Confederação Nacional dos Municípios, a droga está presente em 75,5% dos 184 municípios cearenses. Embora não haja pesquisa local que classifique o perfil do usuário, os atendimentos em segurança e saúde mostram que a maioria dos usuários é formada por homens jovens e em idade produtiva. São essas pessoas que, adoecidas, disputam vagas para internação e tratamento de dependência química em hospitais, Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Residências Terapêuticas e em centros de recuperação.

É essencial compreender que as abordagens incluem não só aspectos médicos como ações que privilegiem o contexto econômico e emocional dos envolvidos. A responsabilidade deve ser compartilhada, já que não é possível blindar a família e a escola de modo a não permitir o acesso à droga. Com capacitação das equipes de saúde e de segurança, discussão acadêmica e política, é possível favorecer o diálogo como forma inicial de compreender a gravidade da questão.