Ideias: Jeitinho brasileiro

Esse peculiar comportamento do brasileiro foi tema de palestra proferida, recentemente, pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso, na Universidade Harvard, EUA. O colóquio girou em torno do fato de que o jeitinho brasileiro é "produto de algumas características da colonização e da formação nacionais". Como mostra a historiografia nacional, nossa formação étnica vem de camadas europeias, africanas e ameríndias, portanto, diferenciada dos demais povos do Continente Americano, a começar pelo modelo de colonização adotado na nova Terra descoberta. Aqui, os colonizadores portugueses, amparados pela Metrópole, exerciam plenos poderes sobre a população local e o território administrado.

À época Colonial, os donos do poder (leia-se capitães hereditários e sucessores) já "não sabiam" separar o bem público do bem privado: tudo era deles. No Império, esse cenário pouco mudou. Na República, a "res publica" (contrariando até a origem do seu nome) continuou nas mãos de grupos privilegiados, ainda mais poderosos.

Hoje, a realidade brasileira é outra, porém marcada de erros históricos e vícios civilizatórios, herdados e acumulados ao longo dos tempos. São exemplos: escravidão, latifúndios, dependência ao Estado, preconceitos, desigualdades, impunidade, disfunções políticas etc. Daí, espremido, nasceu o jeitinho brasileiro: conduta egocêntrica, transversal, de uma pessoa visando escapar do cumprimento de um dever (legal, ético ou moral), mesmo ciente que esse comportamento, ostensivo ou velado, muitas vezes, pode ferir a Lei, subestimar o próximo, afetar a sociedade.

José da Cunha Linhares - Advogado