Graça, digno alagoano

Graciliano Ramos (1892-1953), alagoano, autor de "Vidas Secas" e "Memórias do Cárcere", ocupou também cargos públicos. Eleito, em 1927, prefeito de Palmeira dos Índios (AL), permaneceu até 10 de abril de 1930, quando renunciou. Conhecido por seu estilo seco e pela rudeza de seus personagens, costumava enviar documentos ao governo estadual, relatando sem meias palavras os percalços com os quais se deparava para administrar um município com poucos recursos. Em relatório de 10/01/1929, disse que, ao assumir, procurou organizar a administração, visto que "havia em Palmeira inúmeros 'prefeitos': os cobradores de impostos, o comandante do destacamento, os soldados (...). Cada pedaço do município tinha sua administração particular, com 'prefeitos' coronéis e 'prefeitos' inspetores de quarteirões". Quanto aos funcionários que encontrou ao chegar, "saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais (?) cumprem suas obrigações e, sobretudo, não se enganam em contas. Devo muito a eles".

Graça, como era conhecido, esmiuçava tudo o que era recebido e aplicado em prol do povo, com zelo, no seu estilo cáustico de expor as ideias: "A iluminação da cidade custou 8 contos e 921 mil réis. Se é muito, a culpa não é minha; é de quem fez o contrato com a empresa fornecedora de luz". Sobre a manutenção do cemitério, "enterrei 189 mil réis: pagamento ao coveiro e conservação". Referindo-se às estradas, disse: "Procurei sempre os caminhos mais curtos. Nas estradas que se abriram só há curvas onde as retas foram inteiramente impossíveis". Digno e sem favorecer apaniguados, sem desviar o parco dinheiro arrecadado, colecionou desafetos. "Se a minha estada na Prefeitura (?) dependesse de um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos", finalizou, de forma a inspirar políticos que hoje ainda procuram honrar, sem esquemas e com seriedade, os mandatos recebidos do povo.


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