Galinhas furtadas e ferradas

Década de cinquenta do século passado. Maior problema da Polícia e das pessoas eram furtos de galinhas.

Evitando ser vitimados, os proprietários adotavam providências, objetivando evitar más surpresas ao acordarem. À noite, colocavam as aves dentro de casa. Os possuidores de árvore no quintal, encostavam uma escada à noitinha, as penosas subiam, retiravam-na e a recolocavam no dia seguinte.

Mundinho, possuidor de galinhada de reprodução, corte e vendas de ovos e criação de galos de briga (permitida na época), “ferrava” seus “bichos bicudos”, como os denominava. Seu cunhado, trabalhador do cais do porto, trazia-lhe tinta zarcão marítima. Mundinho pintava um dos pés das picotas. No muro em frente, colocou placa alertando: “Minhas galinhas são ferradas e o delegado sabe”.

O espírito galhofeiro fortalezense criou dito, que falava ao aparecimento de ambulantes: “Quem foi o dono?”. Logo motivava confusão.
JAP, estimado amigo de infância e hoje economista, estudava no Liceu do Ceará e presenciou fato correlato. Grupo de liceistas, próximo ao colégio, aguardava carona, quando um mercador passava com um pau sobre o ombro e galinhas penduradas numa ponta e na outra. Aos gritos anunciava repetidamente: “Olha, Galinha gorda e barata!”. 

Um dos alunos vozeou: “Quem foi o dono?”. Indignado, o homem botou o madeiro no chão e partiu em direção à estudantada. Os colegiais correram em várias direções e com alarido de “Cuidado, vem um doido!” e “Chamem a guarda!”.

Atônito, o mercante ficou parado, segurando o madeiro na mão, enquanto as galinhas corriam em vários sentidos, pelo leito da rua, e os veículos buzinavam e freavam.
Completando a balbúrdia, a guarnição do Corpo de Bombeiros, cujo quartel fica ao lado da escola, pensando tratar-se de algo grave, rumou para o local. JAP motivou tudo, tenho a certeza!


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