Formação cidadã

O epítome de "País do futuro", dado pelo escritor austríaco Stefan Zweig, traduz ainda uma missão do Brasil. Pensar no amanhã e pavimentar o caminho até lá é imperativo inescapável. Uma das certezas que se pode ter diante da complexa tarefa é a de que a juventude é o terreno em que ela precisa ser trabalhada.

A escola é espaço privilegiado da formação de cidadãos e os infortúnios de uma cidadania imperfeita podem ser vistos por todos os lados. Contudo, contribuir para a formação cidadã de crianças e adolescentes não é um atribuição exclusiva das instituições educacionais. É um desafio complexo e como tal deve ser assumido por toda a sociedade.

Enquanto o País se avizinha do pleito que definirá seus rumos no futuro próximo, há movimentos que buscam preparar os jovens para um arco temporal maior. Busca-se, assim, a formação de uma cidadania crítica, do tipo que solidifica instituições e garante o respeito aos direitos e deveres dos cidadãos.

Inscreve-se nesse espírito educador uma ação recente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, em sua sigla em inglês), realizada ontem em Fortaleza. A entidade promoveu uma série de encontros colocando, de um lado, representantes dos Poderes Executivo e Judiciário; e, do outro, adolescentes de 20 municípios cearenses que participaram de uma iniciativa do organismo internacional. Os pontos em comum, que interessavam a todos os participantes da programação, estão sintetizados no documento "Mais que promessas: compromissos reais com a infância e a adolescência no Brasil", que o Unicef lançou, em agosto passado, no Rio de Janeiro.

O documento do Unicef propõe o compromisso dos postulantes aos cargos públicos, definidos pelas próximas eleições, a priorizarem suas ideias: a de que "superar a pobreza é mais que melhorar renda"; "reduzir a violência é mais que segurança pública"; "assegurar o direito à educação é mais que matricular na escola", "garantir a sobrevivência das crianças é mais que ofertar serviços de saúde"; "promover boa nutrição é mais que acesso a alimentos"; "participar da democracia é mais que votar aos 16 anos". Cada uma delas foi estruturada a partir de problemas diagnosticados em balanço multidisciplinar.

A convocatória para debelar a violência, por meio da criação de oportunidades de educação e emprego para os adolescentes mais vulneráveis, vai de encontro ao dado de que, desde 2012, esta camada social é proporcionalmente mais vítimas de homicídios do que a população em geral. Na educação, ações transversais são incentivadas, como forma de combater as causas da exclusão de jovens das salas de aula. Hoje, mais de 2 milhões de crianças e adolescentes no País estão fora da escola.

Detalhar as duas propostas é mais do que uma forma de explicitar o método usado pelo Unicef para estabelecer essas propostas guias para a sociedade. Ela é essencial para mostrar que essas realidades são interdependentes. Os adolescentes que abandonam a escola têm um risco mais alto de ser vítimas de homicídio do que quem conclui o ensino médio.

Das seis áreas prioritárias, uma se destaca pela amplitude de seus efeitos: aquela que incentiva a participação dos jovens na democracia, para além do exercício do sufrágio, que se dá no Brasil a cada dois anos. Chama-se a atenção para o saudável exercício que se faz ao incluir o jovem nos espaços de discussão, em que são tomadas decisões que impactam a vida em suas comunidades. Os benefícios daí decorrentes serão inestimáveis.