Firmar política externa

Tema habitualmente relegado ao segundo plano nos debates das campanhas eleitorais, a política externa precisa integrar de modo mais incisivo as diversas discussões travadas nesse período relacionadas ao futuro do País. Se o Brasil traçar estratégia bem delineada nessa esfera, ele pode se consolidar na liderança regional, ganhar maior credibilidade internacional, exercitar influência nas demais nações e ampliar as oportunidades de negócios.

No início da década corrente, a política externa era conduzida pelo sonho de o País se alçar como uma potência global. Às vésperas de sediar grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, ao mesmo tempo em que apresentava indicadores econômicos positivos, ele se destacava no exterior pelo cenário promissor. No entanto, com a instalação da crise interna, caracterizada por turbulências na política e na economia, aquelas perspectivas alvissareiras começaram a se desvanecer.

O governo federal teve de direcionar todas as energias para debelar o incêndio que se disseminava dentro dos limites do território nacional e ignorou as relações internacionais. As participações de empresas brasileiras em megaprojetos na América Latina e na África, com apoio de empréstimos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), tornaram-se mais raras. Também emperraram as negociações com outros governos para fechar acordos bilaterais.

Após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, as dificuldades prosseguiram e os poucos esforços se concentraram timidamente na atuação sobre o caso Venezuela. A missão de paz em Bangui, na República Centro-Africana, que seria comandada pelas Forças Armadas brasileiras, seria a chance para sinalizar o início da recuperação da credibilidade nacional no exterior. O plano, todavia, foi adiado para o próximo ano em razão do envio de efetivo militar para a intervenção federal no Rio de Janeiro.

Reconstruir a agenda externa se tornou mais desafiador em face do contexto internacional maculado por várias incertezas. Uma delas é a expectativa de alta da taxa de juros dos Estados Unidos, ameaçando o potencial de atração de investimentos das nações emergentes, como o Brasil.

Outra preocupação é a oscilação do mercado de "commodities", o qual deve sentir a repercussão da disputa comercial protagonizada por norte-americanos e chineses, além das dificuldades econômicas enfrentadas pela Argentina.

Cresce a importância, portanto, de o próximo presidente incluir na agenda prioritária de governo as conversas bilaterais sobre acordos comerciais e negociações de redução de tarifas. Caberá também a ele atuar decisivamente em apoio à aproximação entre o Mercosul e a União Europeia e agir na busca de reforçar os laços com o Brics.

O futuro governo ainda terá de avaliar questões como a transformação do BNDES em instrumento de política externa. A instituição de fomento é aproveitada desde 2003 para fortalecer a relação brasileira com outras nações, mas tal estratégia é alvo de vários questionamento devido a seu alto custo operacional e aos riscos de calote.

Por ocupar posição territorial privilegiada na América do Sul, naturalmente se espera que o Brasil consiga aproveitar tal condição para exercer liderança. Mas concretizar essa expectativa requer a execução de um plano fincado em propostas pragmáticas e imunes a possíveis interrupções motivadas pelos problemas políticos e econômicos que não cessam de atormentar as condições domésticas.